Eu nunca considerei a corrida um exercício atraente. Na verdade, tinha até certa rejeição com a ideia de correr, primordialmente porque, na minha cabeça, tinha certeza que seria como a Phoebe, da série Friends: uma corredora espalhafatosa e desengonçada que seria mal falada pelos outros. Algo sobre suar demais em público também nunca me pareceu interessante. Enfim, eu realmente não era do time que via na corrida uma ideia legal.
Ainda assim, há alguns meses comecei a sentir uma vontade incontrolável de começar a correr. Talvez fosse um efeito dos dois anos de pandemia e do tempo em excesso dentro de casa, mas a ideia de aproveitar os exercícios ao ar livre me pareceu cada dia mais interessante. Some-se a isso uma segunda vontade incontrolável de gastar mais energia e, pronto, pensei em começar a correr.
Vou ser sincera com você: o meu começo foi 100% amador. A única coisa que eu sabia sobre começar a correr era a necessidade de ir com calma – algo que fiz até demais. O meu plano era simples: sair para caminhar algumas vezes na semana e intercalar essa caminhada com alguns sprints de corrida. Sair correndo, “do nada”, me parecia problemático por muitos motivos, mas principalmente porque o medo de me machucar era grande.
Então, assim fui. De duas a três vezes na semana eu saía para caminhar pelo bairro por, aproximadamente, meia hora. Em alguns momentos desse exercício, quando o terreno era mais plano, arrisquei correr por alguns metros.
Digo “alguns metros” porque sempre fui péssima com medidas e distâncias e definia o meu tempo de corrida como “vou daqui até ali correndo”. Eram sempre dois ou três sprints desses para o resto do tempo caminhando.
A princípio, pensei que todo o condicionamento físico que eu conquistei na academia não serviram para coisa alguma, porque correr um pouquinho só me cansava muito e me deixava absolutamente sem fôlego depois de três ou quatro “trotadas”. Com o tempo, comecei a entender não só que esse era um tipo de resistência física “diferente” como o meu corpo começou a se acostumar com o movimento, e a cada novo sprint eu ficava menos ofegante e aguentava correr um pouco mais do que o dia anterior.
A ideia de correr apenas algumas vezes na semana (e não todos os dias) também tinha fundamento: conversei com alguns amigos que são personal trainer e preparadores físicos que me aconselharam a dar tempo para o corpo se acostumar com o novo estímulo e se recuperar – assim como a gente faz na academia, dando tempo para as fibras musculares se regenerarem.
Agora, alguns meses depois dessa primeira tentativa e superada a vergonha e a ideia egocêntrica de que todo mundo vai ficar me olhando e falando mal de mim enquanto corro, tenho começado a entender porque a corrida é tão interessante: a mente fica, de fato, mais clara, me sinto mais energizada e bem mais animada ao longo do dia – e sinto que gastar mais energia tem feito maravilhas pelo meu sono.
Se você, como eu, pensa em começar a correr, aproveitei esse gancho para ir atrás de algumas dicas importantes que podem ajudar todos nós.
6 DICAS PARA COMEÇAR A CORRER
1Antes de tudo, faça uma avaliação médica
“A primeira coisa que você precisa fazer é uma avaliação clínica com um médico”, explica Giselle Felix, especialista em estilo de vida e bem-estar da WinSocial. “Ele vai analisar seu histórico de saúde, pedir exames, se for preciso, e dizer se você está apto para começar a correr.”
Esse é um cuidado que minimiza riscos e garante um início seguro na corrida. Além do mais, apenas o médico vai poder dizer se você tem alguma contraindicação a esse exercício ou não.
2Use as ferramentas adequadas
Para Giselle, correr de forma segura é o mais importante. E como fazer isso? Simples, tendo à mão os tênis corretos e adequados para o exercício físico, usando roupas confortáveis e que facilitem a movimentação e fazendo um aquecimento antes da prática.
3Fuja de comparações
“Outra recomendação importante é tentar não se comparar ou fazer algo que não se encaixa na sua realidade, pois isso pode desmotivar e prejudicar sua saúde”, continua a profissional. “Participar de grupos de corrida pode ser motivador, além de você ter a oportunidade de aprender com o relato de pessoas que já passaram por diversas experiências na corrida. Em geral, nesta troca com o grupo, você consegue muitas indicações do que fazer e não fazer. Mas é preciso ser realista quanto aos seus limites e desejos pessoais, pois respeitar seu ritmo é tão importante quanto a prática da corrida.”
Planeje – e siga o seu planejamento!
Planejamento e disciplina são importantes para tudo na vida, e não é diferente na corrida. Ao começar com a prática, você pode usar uma planilha de corrida como guia, de acordo com seu objetivo – e o cronograma ideal é aquele feito para você, respeitando seu próprio ritmo e limitações, objetivos e motivações.
“Um bom guia para isso é traçar um objetivo SMART, ou seja: específico, mensurável, alcançável, relevante, temporal. Quando você é constante no treino, você desenvolve e mantém uma base sólida de condicionamento físico e, a partir daí, poderá melhorar e dividir o ano em etapas de progresso”, diz.
Nesse plano, incluir ciclos de treinamento, corrida, recuperação e manutenção auxilia a avançar, com menos risco de lesões.
5Fique atento ao seu corpo antes de avançar no treino
“Se o seu nível de esforço é de fácil a moderado, você pode considerar incluir variedade. Por exemplo, um treino que seja mais longo, com foco na resistência, alternado com um treino mais curto e de maior intensidade – treino intervalado (intervalos de velocidade de um minuto, por exemplo), não deixando de fazer os treinos de rodagem, que é como são chamados os treinos moderados”, continua.
Dessa forma, você irá realizar treinos longos para resistência, treinos curtos de maior intensidade para aumentar a explosão muscular, e treinos de rodagem para manter volume de treino. Manter um volume semanal de práticas também é importante se você pretende avançar para um próximo nível, com constância e disciplina e, para isso, vale a pena registrar seus resultados usando algum recurso tecnológico do celular, smartwatch ou em uma planilha – isso vai ajudar na análise e tomada de decisão para avançar.
Fique atento ao antes e ao depois
Já falamos acima sobre a importância do aquecimento antes de começar a correr, mas é válido também considerar alongar depois da prática, como uma forma de ajudar o corpo a relaxar e minimizar as dores.
Além disso, entra aí a sua alimentação: manter o corpo bem hidratado e uma dieta saudável é vital. “A recomendação alimentar vai depender do objetivo da corrida (o que você está buscando com a corrida? Emagrecer? Sair do sedentarismo? Participar de corridas de rua?) e da duração (5 km? 10 km? Meia maratona? Maratona?), além da sua individualidade – por exemplo, se você possui alguma restrição alimentar”, explica Giselle. Para isso, contar com o acompanhamento de um nutricionista ou de um preparador físico faz toda diferença.