Tem-se falado tanto em saúde mental que a ideia de procurar um terapeuta ou psicólogo parece bem tentadora. No entanto, você se depara com uma pergunta: sobre o que falar na terapia?
Caso você já tenha ficado em dúvida sobre isso, não se preocupe: essa é uma preocupação bastante comum. Porém, fazer terapia é mais simples – e bem menos assustador! – do que parece. Vamos entender melhor sobre o assunto a seguir.
SOBRE O QUE FALAR NA TERAPIA?
Ok, já entendemos para que serve a terapia, mas isso não tira a dúvida sobre o que falar durante a sessão. Na maioria dos casos, os pacientes já chegam com um assunto em mente para conversar sobre – uma questão no trabalho, com a família, na sua relação amorosa… -, e esse tópico é explorado em conjunto com o terapeuta. Na terapia cognitiva, essas são as chamadas “metas terapêuticas”.
“Nós, da terapia cognitiva, temos um modelo mais diretivo e fazemos isso, direcionamos e criamos objetivos. Existem modelos de psicoterapia em que a conversa pode ser completamente livre, como a psicanálise”, diz Daniela Faertes, psicóloga especialista em terapia cognitiva e mudança de comportamentos prejudiciais.
Ou seja, não existe “certo ou errado” quando o assunto é o tema da sua conversa com o profissional de saúde mental. Todos os assuntos são liberados, o que muda é a abordagem e o direcionamento a respeito dessa questão.
“O próprio movimento de procurar terapia e ir semanalmente já é terapêutico por si só, pois já é uma abertura emocional para a mudança”, continua Daniela. “Ter um espaço neutro, sem julgamento de fala, isto é essencial. O que sentimos, muitas vezes, não podemos falar com familiares e na terapia existe este espaço. A própria procura e, depois, a ida à terapia já é uma abertura para o processo de mudança, seja ele comportamental ou emocional.”
A terapia é um lugar onde se fala o que socialmente não é dito. Por isso, não existem assuntos que não podem ser explorados na sala do terapeuta – mesmo que ela seja virtual!
Ainda assim, existem assuntos que são mais comuns e, na dúvida, você pode escolher um deles para analisar junto com o seu terapeuta ou psicólogo. Um bom balizador são as sensações desconfortáveis que um tópico desperta, por exemplo, a raiva em relação a um dos pais ou para com um chefe.
- Relacionamentos amorosos
- Relacionamentos familiares
- Relacionamentos profissionais
- Decepções amorosas ou familiares
- Decepções em relação a situações específicas
- Perdas ou processos de luto
- Tristeza profunda ou desmotivação além do normal
- Insatisfações profissionais profundas
- Insatisfações em relação à vida, no geral
“O tópico das relações é o principal”, diz Daniela. “É interessante observar que algumas pessoas vão diretamente por conta deste tópico ou acabam chegando a esta questão, identificando uma dificuldade. É onde as pessoas tendem a ter mais sofrimento sobre. Claro que existem outros tipos de sofrimento – como a perda de emprego -, mas a maior fonte de sofrimento são as relações, os vínculos, as rejeições, os abandonos, as discordâncias, brigas… Então, este costuma ser o principal trabalho.”
PARA QUE SERVE A TERAPIA?
“A terapia tem uma abrangência enorme de questões que pode trabalhar”, explica a psicóloga. “Vão desde autoconhecimento até trabalhar a autoestima, ansiedade, estresse, conflitos de relacionamento, questões físicas, psicossomáticas, dores, ajudar a pessoa a se preparar para ou lidar com alguma situação.”
Não só isso, mas a terapia também ajuda essa pessoa a tomar consciência e a mudar atitudes e comportamentos que estejam sendo prejudiciais para ela, e ainda pode trabalhar aliada a medicamentos específicos no tratamento de transtornos psiquiátricos, como a depressão.
“A terapia também ajuda a pessoa a enxergar o mundo de forma diferente”, continua. “Partimos do princípio de que boa parte do sofrimento tem a ver com a maneira como as situações são enxergadas. Isso não significa que é preciso enxergar tudo de forma positiva – até porque esta visão é perigosa –, mas a terapia auxilia a enxergar o mundo através de lentes mais realistas.”
Em resumo: a função da terapia é, principalmente, ajudar os pacientes a adquirirem uma visão funcional e saudável sobre a vida, sendo uma solução para visões pessimistas e equivocadas, muitas vezes fruto de uma infância recheada de crenças que levaram à distorção do olhar.
“É muito difícil alguém se arrepender de ter feito terapia. Na verdade, mesmo que ela não quisesse iniciar o tratamento, dificilmente não irá proporcionar nenhum benefício à pessoa”, continua.