Há algumas semanas, o ator Bruce Willis, astro de filmes como “O Quinto Elemento” e “Duro de Matar,” anunciou a aposentadoria da atuação. Aos 67 anos, a questão, no entanto, não era a idade ou o cansaço, mas uma condição de saúde: a afasia. Hoje, vamos entender melhor o que ela significa e como se manifesta.
O QUE É AFASIA?
A alegação de afastamento de Willis da atuação tem uma conexão direta com a natureza da afasia: um distúrbio de linguagem que afeta a comunicação. “A afasia, por ser uma disfunção neurológica, afeta o lado esquerdo do nosso cérebro, responsável pela função cognitiva ligada a fala/linguagem”, explica a psicanalista Dra. Andréa Ladislau.
Normalmente, a afasia surge após lesões cerebrais nessa mesma região do cérebro, e provoca uma deficiência na compreensão auditiva e na fala, comprometendo também a escrita. Ou seja, as principais formas de comunicação e compreensão comunicativa são comprometidas.
A afasia também pode reduzir o alcance do campo visual, limitando ainda mais o universo de atuação e convívio do paciente – alguns dos relatos, por exemplo, dizem que o ator se mostrou muito confuso sobre a sua presença em determinados ambientes e colocou a si mesmo e outras pessoas em perigo em um set de filmagens ao disparar uma arma de fogo carregada durante as filmagens.
“Desta maneira, a pessoa se vê limitada em sua interação e se frustra dentro de suas tentativas de comunicação. Ou seja, ela passa a ter uma dependência constante de outras pessoas para conseguir se comunicar”, continua.
DEPENDÊNCIA EM TODOS OS SENTIDOS
Imagine a frustração em tentar comunicar que você tem sede ou fome, que precisa ir ao banheiro ou resolver alguma questão burocrática do dia a dia e não conseguir. Para a Dra. Andréa, a afasia remodela as relações do paciente de forma bastante profunda, já que ele passa a depender das pessoas ao redor para se comunicar com o mundo.
“A limitação que se instaura por conta do diagnóstico acaba por isolar, de alguma forma essa pessoa, dificultando ainda mais o exercício e a prática da necessidade de pertencimento, inerente a todo ser humano”, explica.
O grande risco, em casos como esse, é o paciente entrar em processo depressivo e, como consequência, dar margem para outras doenças oportunistas entrarem em ação, como a síndrome do pânico, a demência ou os transtornos de bipolaridade, além da ansiedade generalizada.
Por conta disso, o paciente com afasia precisa de um acompanhamento médico e psicológico bastante próximo, para prevenir complicações decorrentes da doença. Isso se torna especialmente importante quando lidamos com a dificuldade de recebimento do diagnóstico.
“A principal dificuldade está na aceitação do diagnóstico e também na compreensão de todo o processo de déficit linguístico”, diz a Dra. Andréa. “A adaptação deste novo momento, que requer ajuda qualificada para a recuperação de suas habilidades básicas de linguagem, mobilidade e capacitação neuro-cognitiva, também é um grande fator de desafio para quem enfrenta a doença.”
TRATAMENTO E REDE DE APOIO
Falando em tratamento e aceitação, a psicanalista explica como a eficácia do tratamento para a afasia está diretamente relacionada à dinâmica entre o paciente e sua rede de apoio, seja ela composta por amigos ou familiares, além dos profissionais especializados no cuidado, como neurologista, psicólogo, psicanalista, fonoaudiólogo e terapeuta ocupacional.
“Esse acolhimento facilita a interação, provocando o desejo interno de melhora e ativando a capacidade de reintegração do paciente ao seu convívio social”, explica, “sem receios, medos, dúvidas ou mesmo, sem se sentir excluído ou inseguro por ter recebido o diagnóstico.”
Com essa base firme em seu entorno, o paciente se sente capaz de praticar os exercícios específicos, aplicados como forma de tratamento, de maneira constante, recuperando a sua capacidade de fala, escuta e compreensão mental.
“Claro que não se pode esquecer de dois outros ingredientes imprescindíveis neste processo de êxito: amor e paciência. Afinal, o tratamento pode ser longo e demorado, de acordo com a entrega e a resposta de cada indivíduo”, finaliza.