Você com certeza já ouviu falar sobre os cinco estágios do luto por aí. Sejam em filmes ou séries de televisão, em livros ou até músicas, esse é um tema bastante explorado. Mesmo assim, será que sabemos exatamente o que eles são e como lidar com cada um deles?
O que e quais são os 5 estágios do luto
O termo surgiu pela primeira vez no livro Sobre a morte e o morrer, da psiquiatra Elisabeth Kübler-Ross, em 1969. “Esses estágios servem tanto para pessoa que percebe que vai morrer, numa situação onde a própria finitude é uma realidade próxima inexorável, como para quando perdemos ou estamos prestes a perder alguém amamos”, explica o psicanalista Ronaldo Coelho.
Oficialmente, os estágios são:
- Negação
- Raiva
- Barganha
- Depressão
- Aceitação
Mas Ronaldo diz que ainda existe um sexto estágio que precede todos esses, o choque, definido pelo momento em que se recebe a notícia de morte. “Algumas pessoas tendem a trabalhar com a ideia de que esses estágios acontecem nesta ordem, podendo haver um momento crítico na elaboração da barganha que levaria à aceitação ou à depressão, por isso, são cinco estágios – haveria uma bifurcação neste ponto”, explica. “Particularmente, entendo que seja mais importante podermos olhar para o luto como um processo complexo e não necessariamente linear.”
Para o profissional, o método Kübler-Ross é utilizado mais como um alerta para ajudar a pensar e compreender o que se passa com o paciente do que como um crivo diagnóstico que o encaixaria em um padrão definido previamente.
Entra aí um segundo ponto importante: não necessariamente esses estágios são perceptíveis pela pessoa enlutada. “A identificação ajuda menos do que compreender a profundidade do sentido da raiva, por exemplo, ou o modo como o paciente tenta negociar enquanto está barganhando”, continua o profissional.
Como lidar com o luto e os seus estágios?
Ainda segundo Ronaldo, o luto é um processo natural, e o recolhimento e o desinteresse da pessoa enlutada pelas atividades e relacionamentos a sua volta faz parte desse momento.
“Quando esse tempo começa a ficar muito longo ou o sofrimento vai aumentando ao longo do tempo em vez de diminuir, é o momento de se considerar procurar ajuda de um profissional de saúde. Não existe receita de bolo e nem um tratamento específico para pessoas cujo luto ainda não pode ser elaborado”, diz.
A psicoterapia, explica, tende a ser sempre a melhor estratégia, já que propõe percorrer o caminho singular que tornou aquele luto difícil de se elaborar. “Neste processo, estar bem acompanhando fará toda a diferença. Portanto, a escolha de um profissional de confiança é decisivo para o sucesso do tratamento”, finaliza.
O luto é igual para crianças?
Para a Dra. Francielle Tosatti, pediatra pela SBP, a resposta a essa pergunta é “não”. Como ainda estão desenvolvendo o seu conhecimento do mundo e de como ele funciona, para elas, a morte é interpretada de formas diferentes, principalmente nas idades menores. Para uma criança de até 2 anos, por exemplo, ela é vista simplesmente como ausência – daí a importância de mantê-la próxima dos que ficaram, de forma que suas necessidades sejam atendidas e a sua rotina, mantida.
Até os 6 anos, a criança começa a assimilar a ideia de morte, mas ainda de forma fantasiosa. “É importante ter muito cuidado com o uso de metáforas como ‘dormiu para sempre’ ou ‘fez uma longa viagem’, pois podem gerar fobias na hora de dormir ou viajar, além de não contribuir com a assimilação da finitude do evento”, explica ela.
Nesa fase, é possível que a criança, ainda bastante egocêntrica, se sinta culpada, adote atitudes hostis ou regrida em certos comportamentos. Aqui, o acolhimento é essencial para ela entender que não é culpada e que suas sensações são reflexo do luto. Como o lúdico ainda tem um papel importante aqui, estimular atividades artísticas como o desenho podem ajudá-la a liberar e processar essas sensações também.
A partir dos 9 anos, a criança já compreende a morte como um evento definitivo e começa a pedir por ações concretas que marquem esse acontecimento, como participação no funeral. É claro que essa decisão fica a cargo dos pais, sua religiosidade e seus valores. “É importante que seja uma opção para a criança e não uma imposição. Caso a decisão seja levar a criança, e ela deseje ir, explique como vai ser antes e esteja pronto para trazê-la de volta para casa se ela não quiser ficar”, finaliza.