A gente se conheceu trocando papéis de carta. Tínhamos por volta de 5 anos, pastas plásticas pretas com cada saquinho separando os papéis cheirosos dos desenhados, daqueles com envelope – que valiam mais nas trocas. Foi assim que nasceu minha amizade com a Lora.
Mais crescidas, abandonamos nossas coleções e passamos a trocar bilhetes. Escrevíamos ao longo da semana e no final dela entregávamos todos os nossos segredos adolescentes em folhas de caderno dobradas, muitas vezes, para que nada escapasse indevidamente.
Eram paqueras, desavenças com professores, picuinhas com as colegas da escola e conselhos sobre o problema que veio detalhado no bilhete da semana anterior.
Depois a Lora engravidou e nasceu minha afilhada, a Lu. Então, minha funcionária de confiança foi para a casa delas, para poder cuidar da pequena, e a diarista delas veio me apoiar em casa, pois eu precisava de menos assistência.
Já não nos vemos com tanta frequência, mas ontem nos encontramos e ficamos de papo até altas horas. Agora, não só a minha amiga me dava conselhos, seu marido também passou a ser minha rede de apoio:
“Rê, você está inventando muita desculpa para não fazer exercício, vai? Pode parar com isso. Para isso aí tem o aplicativo A ou você pode buscar ajuda com o profissional B. Eu tenho feito desse jeito aqui e me ajudou muito.”
Foi uma conversa inspiradora, com um puxão de orelha carinhoso e informações preciosas da experiência de cada um.
Quando a gente pensa na rede de suporte é comum vir à cabeça aquele ombro amigo, em que a gente vai chorar as pitangas quando as coisas não vão bem. Mas nossa necessidade de apoio é muito mais ampla:
APOIO PRÁTICO – é aquele apoio com as funções do dia-a-dia como alguém que te ajude com o mercado, conserte algo que quebrou em casa ou ainda que fique com as crianças para você poder descansar;
APOIO DE INFORMAÇÃO – permite aprender algo ou encontrar um conhecimento. Por exemplo, onde encontrar informações seguras sobre uma medicação ou onde buscar referências sobre um terapeuta/professor que você esteja interessado em se cuidar;
APOIO AFIRMACIONAL (autoestima) – é aquele apoio que faz você se sentir valorizado e respeitado. Em geral, esse apoio acontece no ambiente de trabalho, nas responsabilidades familiares ou em trabalhos voluntários;
APOIO DE PERTENCIMENTO – é aquele apoio que faz com que você se sinta parte de um grupo, seja ele um grupo da sua comunidade, um grupo espiritual ou a própria família;
APOIO EMOCIONAL – faz você se sentir entendido e aceito seja lá o que você estiver sentindo. Pode ser expressado através de palavras gentis ou gestos de apoio.
Suporte social é uma das primeiras coisas que deixamos de lado quando estamos lidando com o estresse crônico.
A sensação de estar sobrecarregado com as atividades do dia a dia ou a mudança de humor fazem com que a gente se afaste aos poucos da nossa rede de apoio no momento em que mais precisamos dela!
Deixar para “descobrir” quem te dá suporte apenas na hora do aperto pode tornar uma situação crítica ainda mais estressante. Saber que você tem pessoas em quem confiar pode reduzir a sensação de isolamento e ansiedade. Então, vale mapear a sua rede de tempos em tempos para ter na cabeça com quem contar no momento de sufoco.
Seja com papéis de carta, folhas de caderno ou uma figurinha no whatsapp, a Lora e eu investimos tempo na nossa relação de amizade.
Manter por perto as pessoas que nos apoiam e oferecer apoio a quem amamos é uma das maneiras de cultivar relações significativas para uma vida mais leve e saudável.
