Chegar à minha cidade natal, Santos (litoral de São Paulo), e ver que as pessoas não me reconheciam abriu meus olhos para que eu enxergasse pela primeira vez os 18 quilos que tinha ganhado quando saí de casa para ir atrás de um sonho. Alguns dizem que fui ousada ao deixar o diploma de nutricionista na gaveta e partir de Santos (no litoral de São Paulo) para o Vale do Ribeira, perto de Curitiba, com a ideia de abrir uma casa noturna. Sabia que era um bom negócio, mas não tinha ideia do trabalho que daria.
A burocracia era tão grande que eu fazia dupla jornada: de manhã, corria atrás das papeladas e dos fornecedores e, depois, passava a madrugada toda coordenando os shows. O stress era meu maior companheiro e eu não conseguia fazer uma refeição tranquila sem ter na cabeça uma lista de coisas para resolver. As semanas corriam e eu não via que estava engordando. E não é que eu comia com exagero. Pelo contrário: só almoçava quando dava e, praticamente, repetia o café da manhã no jantar. Péssima escolha, né?
Como minhas roupas já não me serviam mais, troquei as calças jeans por leggings e as camisetas por vestidos. Após um ano e oito meses, minha paciência se esgotou com todas as exigências para conseguir manter o negócio ativo e voltei para casa. Lá, as pessoas comentavam como eu havia engordado. Até minha mãe pegava no meu pé para que eu cuidasse do meu peso. A preocupação não era à toa, já que, dez anos antes, tinham me diagnosticado com diabetes tipo 1, resultado de um trauma da adolescência: aos 18, fui violentada em uma balada e isso funcionou como um gatilho para o início da doença autoimune.
Sabíamos que eu precisava cuidar muito bem da minha alimentação porque tenho que controlar o que como para calcular a quantidade certa de insulina a ser aplicada. Mas, em vez disso, entrei em um processo depressivo e parei de sair de casa. Pouco ligava para o que colocava no prato e não desejava encontrar mais ninguém. No Natal, minha mãe perguntou o que eu queria de presente e pedi uma temporada em um spa. Esperava perder pelo menos 15 quilos nos 20 dias que passaria lá, mas eliminei somente 6. Fiquei muito decepcionada. Afinal, me exercitava quatro vezes por dia. E adorava! Quando adolescente, sempre curti musculação.
Ah, mas se enganou quem pensou que eu fosse desistir. Segui firme e forte com a reeducação alimentar e a ginástica. Levava marmita para cima e para baixo e mantive o cardápio diário com até 1 200 calorias. Acelerei a perda de peso e, em menos de um ano, voltei aos 65 quilos. Tudo estava ótimo: Comecei a praticar muay thai, arranjei um emprego novo… Mas, então, sofri um acidente no trabalho – lesionei seriamente o braço – e fiquei proibida de fazer qualquer atividade por dois anos. Mesmo assim, segui com o controle no prato e cheguei aos 55 quilos. A gente acaba aprendendo o que faz bem para o nosso corpo.
Em março do ano passado, fui liberada para praticar corrida. Foi como amor à primeira vista, daqueles que emocionam até a alma. Eu me lembro de ter chorado ao completar minha primeira prova de 10 quilômetros. É como se tivesse rompido com a depressão do passado, sabe? Na pista, conheci novos amigos, com quem estou sempre junto – nós costumamos participar de revezamentos de ultramaratona. Até uma meia maratona eu já conquistei! Hoje, corro pelos diabéticos. Corro pelas mulheres. Corro para me sentir confiante, viva e livre. Corro para ser feliz!
3 aprendizados de Miriã:
1 PREPARE SUA MARMITA.
Com a correria do dia a dia, fica difícil comer a cada três horas. Por isso, tenha sempre um lanchinho em mãos. “Quando sei que não vai dar tempo de almoçar, cozinho um grelhado com legumes para comer em qualquer lugar”, conta Miriã.
2 SUBA NA BALANÇA.
Uma vez por semana, cheque seu peso e comemore cada conquista. Só não faça isso todos os dias para evitar neuroses. Se o resultado não for o esperado, mantenha a calma e repense os seus exageros.
3 INVISTA NOS TERMOGÊNICOS.
Para acelerar o metabolismo, uma ajudinha extra – e saborosa – é muito bem-vinda. Miriã aposta em chá-mate, amendoim e canela. “Bebo café inclusive antes de dormir.”