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A dieta de uma regra só

Quem diria que uma, apenas uma, mudança na rotina pode mandar embora os quilinhos a mais. Com a ajuda da Waldinez Nogueira, nutricionista da Lapinha Clínica e Spa Naturista, na Lapa, Paraná, contamos qual é a tática

Por Cecília Reis (Colaboradora)
Atualizado em 22 out 2016, 20h04 - Publicado em 13 nov 2015, 10h45

Os pesquisadores da área de nutrição andam preocupados. Constataram que o tempo médio de uma refeição não passa de cinco ou dez minutos! Engolindo a comida, sem mastigar, a gente pode até dobrar o volume do que come, sem falar no tanto que isso faz mal à digestão. Tem mais: comer depressa vem de mãos dadas com outro péssimo hábito, o de consumir vários copos de líquido entre as garfadas, justamente para ajudar o alimento a descer, já que mastigando pouco não se produz saliva suficiente. E a saliva, entre outras tarefas, amolece a comida, facilitando a descida.

Mas, quem se preocupa com quantas vezes mastiga um pedaço de picanha? Resultado: a gente vai engolindo rapidinho, uma, duas, quatro fatias até que não aguenta mais. Pára de comer não porque fica satisfeita, mas porque lotou! É o que os especialistas chamam de falsa saciedade. Pura enganação. Quando o estômago esvaziar, a fome vai voltar seja lá que hora for, infringindo a lei básica, que manda espaçar as refeições. Sem controlar os horários, não tem dieta que resista.


É assim que deve ser

Você leva a primeira garfada à boca e começa a mastigar. Mastigando, dá a partida à digestão. A salivação avisa o pâncreas, os intestinos e o fígado que vai começar a festa e está na hora de produzir enzimas digestivas, necessárias para transformar a comida em músculos, ossos, combustível, estoque de energia…

É também a salivação que acelera os movimentos do esôfago e estômago, preparando esses órgãos para fazer seu serviço, ou seja, triturar o alimento no ponto certo para ser assimilado pelo intestino e daí enviado para o sangue que faz o delivery para as células, garantindo a sua vitalidade, força e bom humor.


Mas, dá uma preguiça…

Duas ou três mastigadinhas rápidas e a gente engole – afinal, tem tanta coisa melhor para fazer do que ficar mastigando. E tanta comida boa nos seduzindo nas travessas do bufê do quilo, nos outdoors, nos intervalos comerciais na televisão, que não dá para se dedicar demais a cada bocado… Se a comida chega ao intestino mal digerida, acaba, em grande parte, descendo descarga abaixo, deixando quase nada de energia no seu corpo. Isso sem falar dos efeitos desagradáveis de uma digestão incompleta – arrotos, gases, barrigão…

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Se você não “perde tempo” mastigando a comida mais dura, imagine se vai investir em triturar pão, massa, arroz, biscoito e toda a turma dos carboidratos refinados, alimentos mais moles. Pois justamente ele, o carboidrato, merece ser muito bem amassadinho porque sua digestão depende muito da saliva e acontece quase inteiramente na boca.

Se descer mal mastigado, os carboidratos viram banquete para as bactérias que habitam o intestino, criando um estado de fermentação no ambiente, dilatando as alças intestinais e produzindo estufamento e gases, muitos gases. A digestão de verduras, frutas e legumes também exige o empenho dos dentes. É que vitaminas e minerais, o ouro dos vegetais, só são absorvidos se você quebrar a parede de celulose que reveste a célula vegetal. Sabe como? Mastigando.


Desacelere e aproveite

Até aqui, já juntamos bons argumentos para botar fé na mastigação. Mas, você deve estar se perguntando quando é que essa atitude pode ajudá-la a emagrecer. Fome é a pedra no sapato de todas as dietas. E, se você é saudável, não há como não sentir fome, já que essa é uma questão de sobrevivência. Sentir fome é um direito e obrigação de todos nós. O que podemos é domesticar o apetite e evitar a gula, essa, sim, uma desordem alimentar que deve ser sumariamente demitida da sua vida.

Quer se livrar dela? Basta mastigar! Só assim você consegue esticar a refeição e entrar em sintonia com o ritmo do seu corpo. Entenda: só após 20 minutos de mastigação, o cérebro recebe um recado de que você está satisfeita e, para que todo o corpo fique sabendo disso, libera a produção de um hormônio responsável pela saciedade, o PYY. Se você mastigar com calma, vai demorar esse tempo para consumir um bom prato de comida. Se, por outro lado, encara as refeições como um rali de velocidade, vai cair na armadilha da falsa saciedade.

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No controle da fome, dois personagens são os grandes heróis. A grelina é a substância que abre o apetite. O que rebate seu efeito é justamente o PYY – ele avisa o corpo quando o estoque de energia está completo e, portanto, está na hora de parar de comer. Esse hormônio é produzido no intestino uns 20 minutos depois que o corpo percebe que começamos a comer. E adivinha quem manda o recado? A salivação. Ou seja, se você levar menos de 20 minutos para fazer a refeição, vai desmontar esse mecanismo e comer mais do que precisa. Enquanto o PYY estiver circulando na corrente sanguínea, nos sentimos saciados. Quando ele saí de cena, entra a grelina e lá vem apetite.


Ah, que delícia!

Se a idéia é matar a fome e driblar a gula, a solução definitivamente é mastigar. Olha aqui mais um argumento: quanto mais tempo a comida fica na boca, mais ela está em contato com as papilas gustativas da língua, que captam seu sabor. Essas papilas também têm função na digestão: vão avisando o centro da fome de que a gente está comendo. Sentir o gosto do alimento, portanto, ajuda você a se saciar.

Pois é, quando degustamos os alimentos e não apenas os empurramos para o estômago, estamos vencendo a batalha contra a gula, além de descobrir e aproveitar o verdadeiro prazer de comer. Comer é muito bom e você merece se deleitar sem culpa. A melhor forma de fazer dieta, portanto, não é pensar no que não se pode comer, mas aprender a comer do jeito certo. Agora que você entendeu como as coisas funcionam, faça um favor: não deixe seu corpo na mão, ajude-o a produzir as tais enzimas, botando seus dentes para trabalhar. Quer queimar os excessos? Mastiga, mastiga, mastiga!

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