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Analgésico: você é viciada no medicamento?

Tomar um comprimido nem sempre é a melhor solução para aliviar a dor, mesmo que seja a primeira ideia que vem à cabeça. Entenda o porquê:

Por Marcia Di Domenico (colaboradora)
Atualizado em 23 jan 2017, 16h13 - Publicado em 16 abr 2015, 14h37
Remédios
 (Levi Brown/Trunk Archive)
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Você aumentou a carga no treino ontem e hoje mal consegue andar de tanta dor. Ou, justo hoje, que é a despedida de solteira de uma amiga querida, você saiu do trabalho com a cabeça explodindo. Ou, ainda, até queria ir para a academia, mas acordou com aquela cólica chata. Responda rápido: qual é a sua solução para essas situações? Se você disse “tomar um remédio, é claro”, não está sozinha. Para ficar livre da dor, qualquer que seja – de cabeça, nas costas, muscular e de cólica pré- -menstrual (só para citar as que mais nos afligem) –, muita gente não pensa duas vezes antes de tirar da bolsa um analgésico ou anti-inflamatório. Tecnicamente falando, analgésicos e anti- inflamatórios não-esteroides (ou AINEs, como ibuprofeno, ácido acetilsalicílico, paracetamol e diclofenaco) estão catalogados da mesma forma. Isto é, agem do mesmo modo, embora em intensidades diferentes: bloqueando a enzima envolvida no processo de inflamação no organismo e diminuindo a dor. Juntos, estão entre os remédios mais consumidos no mundo inteiro, o que se deve à facilidade de acesso a eles. No Brasil, por exemplo, podem ser comprados sem receita médica. Mas isso não significa que o uso por conta própria esteja liberado.

Alerta contra as drogas

Os remédios existem para facilitar nossa vida. Usados com bom senso, trazem alívio em diversos momentos. Mas a automedicação não pode virar um hábito.  Os especialistas consideram abusivo o consumo dessas drogas mais de três vezes ao mês. Já os fabricantes alertam para que não sejam tomados por mais de sete dias seguidos, em média. O guia específico da Food and Drug Administration (FDA, entidade que regula os medicamentos nos Estados Unidos) para a prescrição de AINEs indica a ingestão da menor dose possível, só pelo período necessário e com indicação médica. “Analgésicos e anti-inflamatórios são soluções temporárias: aliviam o desconforto, mas não tratam a causa da dor”, diz o fisiologista Turíbio Leite de Barros, diretor do Physio Institute, em São Paulo. “Eles mascaram o problema real, adiando a solução correta, e, com isso, podem desencadear vários efeitos negativos.”

Treino prejudicado

No dia seguinte à estreia de uma sequência nova de exercícios, com aumento da carga ou mudança de estímulo, o corpo costuma reclamar. “Essa dor muscular tardia é o resultado de um processo inflamatório natural e necessário para a reconstrução do músculo, que sofreu microlesões pelo desgaste”, explica Leonardo Cabral, professor de educação física especializado em fisiologia do exercício, gerente de musculação  da rede de academias Bodytech. Se você apela para um anti-inflamatório, interrompe esse ciclo e atrapalha a recuperação adequada do músculo, que é o que garante o benefício do treino.

Hormônios bagunçados

Não pense que sair tomando remédio é coisa de malhadora de primeira viagem com pouca tolerância à dor. Um estudo de 2011 com atletas do Ironman, competição que exige um senhor preparo físico, revelou que quase 60% deles (homens e mulheres) haviam tomado anti-inflamatórios não-esteroides nos três meses anteriores à prova. É uma forma de suportar a carga de treinamento. Outro trabalho, realizado com jogadores profissionais de futebol durante a Copa do Mundo da África do Sul, em 2010, e publicado no periódico médico British Journal of Sports Medicine, revelou que 39% dos atletas tomaram medicação para dor antes de entrar em campo. No caso das mulheres,  exagerar nos remédios contra a dor, evitando interromper o ritmo de malhação, é uma cilada. “O excesso  de exercício pode levar a desequilíbrios hormonais que resultam em alterações no ciclo menstrual, além de desencadear transtornos alimentares (como anorexia e bulimia) e osteopenia (perda de massa óssea)”, alerta Turíbio Leite de Barros.

Saúde ameaçada

“A dor é um mecanismo de proteção do organismo. Ela sinaliza que algo não vai bem”, esclarece o ortopedista e médico do esporte Roberto Ranzini, do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. “Se a dor for mascarada pelo analgésico e a pessoa continuar se exercitando, ela corre o risco de provocar ou agravar uma lesão.” O mesmo vale para ignorar uma dor persistente de cabeça ou nas costas ou deixar para lá a cólica que inferniza todo mês. Pode ser um sinal para algum problema de saúde e, portanto, merece ser investigada.

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Estômago agredido

Um dos principais efeitos colaterais do uso de anti-inflamatórios são os desconfortos gastrointestinais. Consumidas por via oral, essas substâncias caem no aparelho digestivo e atacam a camada de proteção do estômago, abrindo espaço para lesões na mucosa gástrica, sangramento, gastrite e úlcera. O risco é maior quando o uso desses remédios é regular e prolongado, mas pode acontecer de a ingestão de uma única dose causar estrago se você tiver algum tipo de intolerância à droga.

Dor piorada

Segundo dados da Sociedade Brasileira de Cefaleia, cerca de 7% da população brasileira é vítima de dor de cabeça quase todos os dias. É a chamada cefaleia crônica diária: a dor surge no mínimo 15 dias no mês, por pelo menos três meses. A maioria desses casos se deve justamente ao uso excessivo de analgésicos. Você experimenta vários tipos, pega um comprimido de uma amiga, aumenta a dose por conta própria e, quando se dá conta, o que era uma dor de cabeça pontual virou cefaleia ou enxaqueca crônica. “Com o tempo, o organismo se acostuma com o medicamento, deixa de responder aos seus efeitos e passa a necessitar de doses maiores para ter alívio”, diz Ranzini.

Rins em colapso

Pesquisas mostraram que o uso regular de analgésicos e AINEs eleva a pressão arterial, aumentando o risco de doenças do coração. Os rins também podem sofrer danos: com as artérias prejudicadas, inclusive as renais, há a perda da capacidade excretora desses órgãos. Sabe-se que os AINEs também inibem o fluxo sanguíneo para os rins, afetando ainda mais seu funcionamento.

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