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Compulsão alimentar: como funciona

Será que você está descontando na comida as dificuldades de lidar com as emoções? Hora de entender.

Por Amanda Panteri
Atualizado em 6 Maio 2024, 10h34 - Publicado em 24 Maio 2019, 14h19
Mulher comendo batata frita
 (chabybucko/Thinkstock/Getty Images)
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Veja se você se reconhece nessa situação: toda vez que fica um pouco mais ansiosa para algum evento no trabalho, passa nervoso no trânsito ou brigada com alguém da família começa a comer tudo o que vê pela frente. Ou então percebe que já estava satisfeita há tempos, mas não para de repetir o prato até ver a panela vazia. Sim, esses podem ser sintomas de compulsão alimentar, ainda mais se vierem seguidos de uma sensação de culpa e perda de controle.

É preciso então prestar atenção na frequência com que as cenas descritas andam ocorrendo na sua vida. Acontecem várias vezes na semana? Chegam a atrapalhar sua rotina ou o objetivo de emagrecer? Talvez seja a hora de procurar ajuda profissional. “O comer compulsivo muitas vezes aparece quando não conseguimos lidar com emoções mais intensas que nos acometem”, afirma o psicólogo Fellipe Augusto de Lima Souza, do Ambulatório de Transtornos Alimentares do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP. O tema foi assunto de sua palestra proferida na última quarta-feira (08/05) no Centro Terapêutico Máximo Ravenna, em São Paulo.

Ele explica que o problema pode vir da infância e a partir da dificuldade que algumas pessoas têm com a chamada regulação emocional. “A criança aprende, desde cedo, a autorregular as emoções extremas. Um episódio de raiva, por exemplo, pode ser atenuado com uma demonstração de carinho por parte do adulto ou na tentativa de entender os motivos da criança”, diz o psicólogo. Outra coisa comum que os pais fazem é apresentar a comida como recompensa caso a criança reprima o que está sentindo. Afinal, quem nunca ouviu da mãe “se você parar de fazer birra, vai ganhar um docinho“?

E é aí que mora o perigo. Usar a comida como válvula de escape para as emoções (seja tristeza, alegria, raiva, angústia) pode acompanhar o indivíduo até sua fase adulta. “Já foi comprovado cientificamente que preferimos alguns tipos de alimentos em certas situações. Em um episódio de raiva, procuramos comidas crocantes, para aliviar o sentimento com o movimento mecânico de trituração. Já quando estamos tristes, procuramos coisas mais palatáveis, que fiquem mais tempo na boca e derretam com o calor da língua, como o chocolate“, diz Fellipe.

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E apesar de parecer que o problema foi resolvido a curto prazo, o hábito apenas traz um alívio imediato e mascara algo que precisa ser trabalhado. Para entender melhor como funciona o comer compulsivo dentro da nossa mente, Fellipe explica:

Ciclo da compulsão alimentar

  • Um evento, chamado de gatilho emocional, acontece. Pode ser uma briga com a amiga, um problema com os filhos, desentendimentos no trabalho…
  • Começa uma resposta emocional intensa. Você fica muito triste, sente muita raiva, ou muito medo…
  • O cérebro entende que precisa neutralizar esse sentimento a tudo custo e da forma mais rápida possível.
  • Você recorre à comida, muitas vezes sem nem estar com fome, e nem percebe que comeu mais do que o necessário para te satisfazer.
  • Apesar do alívio inicial, o comportamento pode gerar o sentimento de culpa, que provavelmente fará você comer ainda mais. Ou então mascarar a emoção intensa, o que pode fazer com que ela volte com tudo quando você menos esperar.

Como lidar com a situação

Se você se identificou com o ciclo, talvez seja a hora de recorrer a um especialista. Somente ele poderá ajudar a entender por que isso ocorre e qual a melhor forma de resolver. Fellipe dividiu com a gente um dos métodos mais recorridos pela ciência para tratar o problema. Mas lembre-se que seu psicólogo é a pessoa mais indicada para te auxiliar no processo, tá?

1º passo: aceitação do estado emocional

“Emoção é uma coisa biológica — todos nós sentimos e precisamos disso. O correto, então, é não fugir de imediato dela: sinta, sofra, chore…”

2º passo: cheque os fatos

“Agora, pare e pense sobre o que aconteceu para você estar assim. Tente não assumir uma posição julgadora.” Talvez o ocorrido possa ser contornado.

3º passo: aja de modo contrário ao que você quer fazer

Lembre-se de que toda ação tem uma consequência. “Preste atenção no que você está inclinada a fazer no momento”. Isso vai te prejudicar ou prejudicar os outros? Então, faça o contrário.

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