Tainá Müller: abordagem preventiva para preservar a saúde (e o colágeno!)
Intérprete de Verônica em “Bom Dia, Verônica”, da Netflix, fala à Boa Forma de outubro sobre os cuidados do dia a dia para garantir uma vida mais saudável
O ditado popular “melhor prevenir do que remediar” pode ser considerado um lema na vida de Tainá Muller, de 42 anos. Apesar da rotina corrida, dividida entre suas versões de profissional, mulher, mãe e esposa, a atriz faz questão de manter uma série de cuidados com sua saúde e beleza, a fim de garantir uma boa qualidade de vida e mais longevidade. Segundo ela, foi a virada dos 40 anos que mudou seu ponto de vista a respeito de preservar seu corpo de dentro para fora.
“Comecei a me dar conta de que meu envelhecimento tem que ser visto de uma forma muito holística mesmo. Sempre tentei ter essa visão, mas agora mais do que nunca. Eu quero conservar minha visão, minha audição, minha mobilidade o máximo de tempo possível”, contou à Boa Forma.
“Depois dos 40, acho que vai mudando essa chave do: ‘Estou incomodada com uma ruga’. Tem coisas muito mais radicais que estão acontecendo nesse processo de mutação natural do seu corpo e que você tem que estar preparada para aceitar e para tentar correr atrás, no sentido de tentar compensar para ter uma vida útil maior”, completou.
Temática escolhida por Tainá para nosso ensaio de capa – o styling, inclusive, foi assinado por ela mesma! –, a luta foi uma atividade que também passou a fazer parte de sua vida para somar nos cuidados com o corpo e mente.
“Adoro lutar e acho que por isso que escolhi o ensaio [de capa para Boa Forma] de luta, porque foi uma grande descoberta que eu tive depois dos 40 anos.”
A seguir, você confere a entrevista completa com Tainá Muller, na qual ela conta mais sobre seus cuidados de beleza e saúde, as novas perspectivas e preocupações após a chegada dos 40 anos e seus próximos passos na vida pessoal e profissional.
Nova perspectiva de cuidados após os 40
A chegada dos 40 anos mudou algo em sua vida em relação à autocuidado?
Muito! Acabei de fazer um check-up geral, fui primeira vez ao cardiologista, fiz um monte de exames… Agora sempre vou fazer uns check-ups mais completos, porque meu filho quer que eu dure muito, eu prometi para ele [risos]. A virada dos 40 te coloca numa perspectiva mais realista com a finitude, porque você sabe que você viveu metade da sua vida. É quase um: “Alô, agora é sério!”. Então para mim, hoje, meu foco é totalmente nisso. E outra coisa: eu trabalho como meu corpo, então preciso de tudo funcionando muito bem, tenho que estar com todos os meus sentidos funcionando, com a mobilidade, a voz, visão, audição, fala… Então isso acaba também dando um chamado para esse pensamento mais holístico sobre a saúde.
Como você lida com as mudanças causadas pelo tempo? É algo fácil para você ou um processo de aceitação?
Tem um processo de aceitação. Acho que não é simples, principalmente do ponto de vista de uma pessoa que trabalha com a imagem, que está muito acostumada a se ver na câmera e aí começa a enxergar as mudanças. Acho que essa pessoa vai passar por um processo [de aceitação], ainda mais num mundo onde todo mundo está o tempo inteiro correndo atrás da juventude – o que acho que é uma guerra perdida. Claro que você pode melhorar sua pele, conservar o colágeno que tem… É um conjunto de coisas que eu faço para que não seja [um processo] tão acelerado, principalmente com esse mundo todo de toxicidades que a gente vive. A gente não dorme tão bem por causa da telas, estamos em um mundo muito poluído, agora mais do que nunca… Então acredito que toda tentativa de preservação é bem-vinda, mas a luta para frear esse processo [de envelhecimento da aparência] é condenada ao fracasso, e a frustração é o pior. Acho que minha principal preocupação é ir vendo as mudanças e aceitando. E não são só as mudanças na pele. Por exemplo, uma coisa que me impactou muito foi que esse ano comecei a usar meu primeiro óculos multifocal. Aos 42 anos, de repente comecei a não enxergar de perto. Isso me impactou muito [risos], porque o colágeno a gente vai trabalhando, mas e as outras coisas? Comecei a me dar conta de que meu envelhecimento tem que ser visto de uma forma muito holística mesmo. Sempre tentei ter essa visão, mas agora mais do que nunca. Eu quero conservar minha visão, minha audição, minha mobilidade o máximo de tempo possível. Depois dos 40, acho que vai mudando essa chave do: “Estou incomodada com uma ruga”. Tem coisas muito mais radicais que estão acontecendo nesse processo de mutação natural do seu corpo e que você tem que estar preparada para aceitar e para tentar correr atrás, no sentido de tentar compensar para ter uma vida útil maior.
Para conservar a mobilidade, você segue uma rotina de atividades físicas?
Eu sempre fiz atividades físicas, mas gostava de yoga, pilates levinho… E a Verônica me deixou uma herança que eu gostei muito, que é uma herança com mais “punch” de exercício. Treinei muito para fazer [a personagem]. Fiz a terceira temporada com 41 anos e eu queria estar apta a fazer qualquer coisa sem dublês, então aprendi a lutar. Foi uma coisa que eu nunca tinha feito, já que gostava de coisas mais “zen”. Mas eu aprendi a ter esse gosto e me senti muito potente fazendo isso aos 40 anos, interpretando uma personagem que é mãe de adolescente e que está lutando, que é uma heroína 40+ que luta [risos]. Só que acabou a série e eu fiquei com saudade de lutar. Aí, como meu filho tinha muita vontade de lutar, achei uma combinação maravilhosa: hoje ele é meu parceirinho de taekwondo. Eu treino com os adultos e ele com as crianças, mas a gente vai no mesmo horário, fazemos prova de faixa juntos. É uma coisa que para nossa vida, para nossa conexão, foi muito boa. Eu adoro lutar e acho que por isso que escolhi o ensaio [de capa para Boa Forma] de luta, porque foi uma grande descoberta que eu tive depois dos 40 anos.
Você mantém outros cuidados para manter a mente em equilíbrio, como alimentação, terapia etc?
Melhorei muito o sono, porque tive problemas de insônia durante a pandemia, mas já melhorei muito. Quanto à alimentação, descobri que todos os meus exames davam alergia a glúten. Eu realmente cortei e isso melhorou muito minha qualidade de vida. Eu tinha uma coceira crônica na orelha que não adiantava colocar corticóide, porque sempre voltava. Eu também tinha muita retenção de líquido, distensão abdominal, me sentia mal depois de comer, e depois que cortei o glúten melhorou muito minha qualidade de vida.
Foi um processo fácil para você cortar esses alimentos?
Não e ainda não é, porque o mundo não aceita muito bem isso. As pessoas ainda acham que é só uma dieta por “frescura”, não veem que é uma questão de saúde. Para avião, por exemplo, eu tenho que pedir com uma semana de antecedência, e se eu não pedir, não tenho o que comer. Hoje entendi que não posso comer mesmo. Não posso abrir mão, porque uma vez que eu como, passo uma semana mal. Demora muito para desinflamar, então também fui entendendo como controlar o nível de inflamação no corpo, que é uma coisa muito importante. Também tenho uma médica que me acompanha já há muito tempo, a nutróloga Vania Assaly, que me dá suplementos. Eu comecei a suplementar com vitamina B12 e com cúrcuma, que é uma um anti-inflamatório super potente.
Força dentro e fora das telas
Você trabalha com papeis bem intensos. Podemos usar de exemplo “Bom Dia, Verônica”, que traz uma temática bastante delicada para as mulheres. Esse tipo de trabalho já influenciou de alguma maneira sua saúde mental?
[Em “Bom Dia, Verônica”] o assunto era muito pesado e não tem como eu não me sentir totalmente envolvida nele, até por eu ser mulher. A série também pegou muito da pandemia. A primeira temporada foi lançada na pandemia, a segunda foi gravada ainda em pandemia e só a terceira que estava mais fora deste contexto, então ficou tudo muito misturado ali. Foi um momento difícil para mim, mas ao mesmo tempo, quando eu tava no set em ação, por incrível que pareça eu ficava tranquila. Eu deixava toda essa angústia para Verônica e, de certa forma, não deixou de ser terapêutico também. Não deixou de ser uma medicina para mim, porque eu estava em um momento muito angustiado, com muitos medos ainda na cabeça, e aí tem uma personagem que é uma heroína e que parte literalmente para a ação. Foi muito bom nesse sentido para mim.
Você já se manifestou diversas vezes a respeito de pautas feministas e Verônica, inclusive, é uma personagem muito forte na luta pela segurança da mulher. Como tem sido educar um menino na sociedade patriarcal? Quais são os desafios que você enxerga nessa criação?
Acho que, no fundo, eu não crio o Martin diferente de como criaria uma menina. Eu acho. Estou dando uma suposição, porque não tenho essa experiência. Mas acredito que, no fundo, é sobre você validar quem a criança é e os sentimentos dela. É estar com uma escuta muito atenta para ela e ensiná-la sobre respeito com seu próprio exemplo. O que a gente fala, o nosso discurso como mães e pais, vale muito pouco diante das nossas ações. Aqui em casa, por exemplo, ele tem como exemplo um pai que pega junto comigo, que quando estou trabalhando fica com ele, cozinha e faz as coisas. E ele tem um exemplo de respeito com ele também. Eu respeito muito quem ele é desde muito pequeno, peço desculpas quando acho que preciso pedir e reconheço que errei. Então acredito que eu faria da mesma forma com uma menina. Acredito que é isso: fazer com que as crianças gostem da vida de uma forma geral, do mundo, da natureza, e com que aprendam a ter respeito não só com as mulheres, mas com todas as pessoas, com as plantas com os animais… Acho que é ensinando com seu exemplo que todas as criaturas merecem respeito. E, claro, dando uma noção de gênero aos poucos, à medida que ele vai crescendo, falando que os homens ainda são privilegiados na sociedade em relação à mulher. É claro que essas falas entram, mas isso já vai num viés mais racional. A masculinidade e sua toxicidade estão aí. Às vezes vejo [meu filho] reproduzir algumas falas ou comportamentos [machistas ou tóxicos] e é claro que explico, mas acho que o caminho é justamente ter a escuta aberta, porque acredito que esses meninos que se tornam homens opressores talvez não tiveram espaço para lidar com as próprias emoções e acabaram tão desconectados de si mesmos, que também são desconectados do outro, e acabam reproduzindo um comportamento cultural sem pensar.
Você acredita que seus trabalhos ao longo destes 20 anos de carreira contribuíram para formar suas lutas e bandeiras de hoje em dia?
Eu acho que o contrário [risos]. Acredito que o que sempre acreditei que acabou influenciando a minha carreira como atriz. Quando eu estava estudando jornalismo, meu TCC foi sobre os blogs na guerra do Iraque. Um dos blogs que analisei, por exemplo, foi o do Salam Pax, que era um menino gay, que curtia The Cure, que estava lá em Bagdá e que estava com sua cidade sendo bombardeada. Então eu sempre tive muita curiosidade, muita vontade de falar de quem não é muito falado, de trazer à tona assuntos que não são muito falados, de trazer para o debate. Acho que essa minha veia jornalística, mais do que a atriz, que influenciou quem eu sou.
Tem algum tipo de personagem que você gostaria de interpretar e que ainda não aconteceu?
Muitas! Eu adoraria fazer uma sufragista, por exemplo. Da mesma forma que eu adoraria fazer uma mulher que é derramada na própria humanidade — e estou buscando isso, até estou em um projeto para fazer. É uma mulher tão frustrada, tão frustrada, que se torna violenta. Eu acredito que esse direito de também humanizar as personagens mulheres é o próximo passo. Lutamos tanto por protagonismo, conquistamos alguma coisa e acho que também já regredimos um pouco, mas acredito que [o próximo passo] é também o direito de conquistar esse protagonismo que não é só heroico, mas que é facetado, complexo.
Beleza preventiva
Você já foi loira, morena, com cabelo curto e longo, com e sem franja. Mudar o visual é um desafio para você?
Para mim, o desafio na verdade é ficar muito tempo com o mesmo visual [risos]. Gosto muito de mudar e acho que ser atriz é a possibilidade de eu ter sempre oportunidade de me reinventar, não só no meu trabalho, mas também no visual. Então gosto de, a cada personagem, trazer um elemento diferente. Às vezes é mais sutil, às vezes mais explícito, mas é muito difícil encontrar uma personagem minha [igual à outra]. Nem sei se tem alguma exatamente com o mesmo cabelo da outra. Eu acho que é um elemento legal que tenho como ferramenta do meu trabalho.
Teve algum desses visuais que você se identificou mais e que gostaria de manter?
Eu amei demais o da Verônica [da série “Bom dia, Verônica”, da Netflix] na segunda e terceira temporadas. Aquele loiro foi uma revelação para mim, porque eu nunca tinha feito loiro daquele jeito. Achei que eu não ficava bem assim, porque não é uma cor natural para mim, mas acabou que funcionou muito. Então, de vez em quando, me dá saudades. Tenho vontade de voltar.
E tem algum tipo de mudança que você seria mais resistente para fazer em relação ao visual?
Olha, não. Na verdade eu faria tudo que fosse reversível.
E com a pele você também tem essa atenção e cuidado?
Nossa, muito! A pele é uma coisa que eu cuido bastante desde bem nova. Sempre fui a favor de colágeno. “Quem guarda,tem”, sabe? [risos] Então sempre busquei tanto a cosmética quanto o tratamento com laser, bioestimuladores de colágeno, enfim, aparelhos que funcionem de uma forma mais natural – nada que mude a minha fisionomia, mas que estimule esse colágeno, porque preciso dele. Preciso dele porque as câmeras pegam muito mais [linhas de expressão, textura da pele etc] do que o olho no cotidiano. Como atriz, sempre tive essa consciência de que, se eu cuidasse desde cedo, teria um colágeno mais preservado nessa minha idade de agora, e eu acho que eu consegui. Quanto à rotina de cuidados em casa, eu uso bastante coisa manipulada, especificamente para minha pele. Tenho um creme diurno, um creme noturno. Todos os dias eu passo protetor solar, desde os meus 20 anos de idade. Não saio sem protetor. Comprei também um aparelhinho que faz uma estimulação na pele, como um Skin Booster, que gostei bastante. Às vezes eu gosto de usar para drenar. Também uso creme para a área dos olhos. Todos os dias pela manhã eu faço uma rotina de skincare, e a noite também faço. Para mim, é como escovar os dentes, sabe?
Futuro e bem-estar
Por último, o que te gera bem-estar na vida?
Descobri que uma boa carga de endorfina é fundamental para mim. Não é nem uma escolha, não é mais sobre uma escolha, sobre mobilidade ou forma física. Para mim, hoje em dia é principalmente sobre saúde mental, sobre baixar o nível de ansiedade. Me entendi como uma pessoa que tende muito à ansiedade, então a luta foi, para mim, um lugar onde posso dar vazão a essa energia. Sou muito agitada, então é uma energia que às vezes tenho extra no corpo e que acaba não sendo liberada e virando uma ansiedade. Descobri também que eu amo pintar. É uma nova descoberta. O lado bom da vida é que a gente vai vivendo e vai descobrindo. Fui fazer um curso e também estou pintando azulejo para o meu sítio, para fazer uma parede toda de azulejos pintados por mim. Fiz essa aula com um amigo que é artista plástico e descobri que é uma coisa maravilhosa para mim, que tenho tendência a hiperfoco. Não fiz aquele exame oficial para TDAH, mas minha psicóloga, que está comigo há muito tempo, falou que provavelmente eu tenha, pelo meu histórico mesmo, por eu ter tendência a ter hiperfoco e ter a mente tagarela demais. E aí a pintura me coloca em um hiperfoco, o trabalho manual me deixa em uma outra frequência. É muito legal.
Quais sonhos, profissionais e pessoais, você ainda não realizou e gostaria de realizar?
Eu sempre quis ser roteirista, além de atriz, porque tenho essa veia do jornalismo. Sempre gostei de escrever. Eu era blogueira “before it was cool” [expressão que significa “antes de ser legal”, em tradução livre]. Em 2013, antes de ter essas coisas de blogs de moda, eu tinha um blog onde escrevia resenhas, crônicas, poemas, “egotrips”, e deixei isso “dormindo” para me dedicar à minha carreira de atriz. Agora, estou retomando essa gana que tenho de escrever, de criar histórias. Estou em uma sala de roteiro como produtora executiva de um filme em que também vou atuar. Estou também como produtora executiva e diretora de um documentário. Então meus próximos sonhos profissionais a serem realizados passam muito por estar atrás das câmeras.
Quanto a minha vida pessoal, eu queria morar num lugar mais tranquilo. Queria muito morar no meu sítio, que é uma casa sustentável que fiz para ficar totalmente desconectada do sistema. Agora, com filho na escola e numa fase muito produtiva da vida, é mais difícil. Mas tenho uma fantasia de me ver assim num lugar mais afastado mesmo, pintando, criando, escrevendo, lendo… Acho que todo mundo já passou em algum momento por esses sonhos, uma casa cheia de bichos [risos].
O que podemos esperar de você para o próximo ano?
Estou ajudando na primeira versão desse roteiro que fui chamada para ser colaboradora e estou com um filme que provavelmente é para o ano que vem. Também tenho que terminar meu documentário [“Apolo”] até o final do ano, porque ganhamos uma lei para lançamento, então precisa lançar no início do ano. Muito provavelmente vou voltar em cartaz com a peça “Brilho Eterno” em janeiro e fevereiro, e tem também a série “Faro”, que já foi gravada em Portugal e que talvez seja lançada ainda esse ano, e o longa que também filmei esse ano, que é “Mariana”, do Paulo Fontenelle.
A atriz foi quem produziu a locação e moda desse ensaio de Boa Forma. “Quando decidimos a locação, a maravilhosa academia de Boxe ‘Nobre Arte’, busquei uma inspiração que ficou entre o esporte e o cyber punk. Eu curto moda desde sempre e no dia a dia gosto de investir em peças duráveis e atemporais. Tenho um guarda-roupa pequeno e certeiro. Acho que a moda é expressão e encontrar o próprio estilo faz parte da busca do autoconhecimento.”
Foto: Jorge Bispo
Maquiagem e cabelo: Mariana Magiolli
Styling: Tainá Muller