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Suicídio como questão de saúde, mas também social, cultural e política

Será que só pessoas depressivas se suicidam? Psiquiatra explica

Por Alexandre Valverde
27 set 2022, 08h22

Sete pessoas. Sete pessoas darão fim a suas vidas por suicídio até que você termine de ler esse texto, se sua leitura durar cinco minutos. Uma pessoa a cada 40 segundos para ser mais preciso, segundo a Organização Mundial de Saúde. Não por outra razão, a temática do Setembro Amarelo se faz tão relevante.

É necessário que falemos sobre o suicídio e as formas de sua prevenção. Sim, podemos prevenir o suicídio. Isso se deve ao fato de que, nos países ocidentais, em 90% dos casos de suicídio subjaz uma condição psiquiátrica, notadamente a depressão, mas também o uso abusivo de álcool que é observado em 25% até 50% dos casos.

Podemos elencar fatores individuais de risco para o suicídio, mas também há os fatores comunitários ou sociais. Quanto aos fatores individuais, podemos observar a perda de trabalho e financeira, sentimento de desesperança na vida, conviver com dores ou doenças crônicas, ter na família outras pessoas que se suicidaram, mas também fatores biológicos e genéticos, como, por exemplo, ser portador da deficiência de uma enzima (MTHFR) que perturba o metabolismo da vitamina B9 (transformação do ácido fólico em metilfolato, cuja falta prejudica a formação de neurotransmissores) e está relacionada com históricos familiares de suicídio.

Guerras, desastres naturais, conflito sociais são alguns dos estressores comunitários que podem se somar à discriminação social (populações minorizadas como LGBTQIA+, pessoas pretas, imigrantes, refugiados) mas também ao histórico de traumas e abusos, conflitos em relações, senso de isolamento e falta de suporte social. Acesso a meios para conseguir infligir a morte, como armas de fogo, pesticidas, também incrementam o risco de se lograr à morte, pois são métodos mais violentos. A presença de pontes sem guarda-corpo, ou acesso aberto a trilhos de trem, também são fatores de risco conhecidos.

Por outro lado, há os fatores protetivos para maior risco ao suicídio como o cultivo de relações pessoais fortes e criação de redes afetivas e de apoio emocional, financeiro e social. O pertencimento a grupos religiosos e espirituais pode trazer suporte em momentos de crise e ajudar a estabelecer um senso de esperança, embora possa dificultar a comunicação da ideação suicida por parte de um integrante desses grupos, por preconceito com a questão, tornando um local de possível acolhida em fator de maior estresse emocional.

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Apenas 28 países do mundo, segundo a OMS, contam com uma estratégia nacional ou plano de ação relacionados ao suicídio para suas populações. É necessário que seja reconhecido o aspecto multifatorial e que essas estratégias permeiam. Elas atingem não só o sistema de saúde, mas também o educacional, além dos sistemas de proteção social e da produção cultural.

O Brasil tem um dos maiores sistemas públicos de saúde do mundo, o Sistema Único de Saúde (SUS), com uma miríade de estruturas institucionais e ações com repercussão direta e indireta sobre a questão do suicídio. Porém, o SUS vem sofrendo um desmonte e uma inversão de lógica de cuidados em que não se privilegia a ação preventiva.

E em relação à prevenção do suicídio, o Brasil vai claramente na contramão do que é preconizado pela OMS. O número de pessoas com licença para comprar armas aumentou 473% nos últimos quatro anos no país. As consequências disso podem ser vistas diariamente nos jornais: disparam as mortes por acidente e por disputas entre pessoas, numa população afligida em 15% pelo desemprego, 70% por endividamento, 25% por problemas de saúde mental, 13% de etilismo e 50% por algum grau de insegurança alimentar.

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O Brasil é o terceiro maior consumidor de pesticidas do mundo. Há um cinturão dos suicídios no Brasil, uma linha que se estende do oeste dos estados sulinos e sobe pelos estados do Cerrado até o norte do país, sobrepondo-se à linha das novas fronteiras agrícolas.

Vivemos um momento de contingências históricas, sociais e ambientais que podem agravar esse quadro. Estamos refletindo o suficiente e agindo à altura? Em quanto tempo você leu esse texto?

*Alexandre Valverde é médico psiquiatra de sexta geração formado pela Universidade Federal de São Paulo

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