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Paola Carosella fala à Boa Forma sobre força e vulnerabilidade

A estrela da capa de Boa Forma conta suas dores, aprendizados e sonhos

Por Larissa Serpa
Atualizado em 13 abr 2022, 11h30 - Publicado em 13 abr 2022, 11h23

A cozinheira Paola Carosella é estrela da capa da edição de abril 2022 da Boa Forma. Em uma entrevista vulneráveis que já fiz em 13 anos de carreira — e com uma das mulheres mais fortes que já conheci –, ela conta sobre as dores e aprendizados da sua vida, sua recente separação e seu mais ambicioso sonho.

Confira alguns pontos altos da entrevista:

Paola Carosella
Paola prefere uma maquiagem mais natural, sem nada carregado (Nani Rodrigues/BOA FORMA)

Como foi, pra você, ao longo da vida, esse processo de se sentir bonita?

Eu tive uma infância e adolescência bem difíceis no sentido do relacionamento com meus pais, isso não contribuiu para a formação de uma boa autoestima porque você sente que sempre está no lugar errado, na hora errada. Na adolescência, eu nunca me vi como bonita. Eu era muito diferente do que era considerado o padrão de beleza e não se abraçavam outros exemplos de beleza nessa época, como acontece agora. A beleza era só uma: a da modelo da capa da revista super magra e pequena. Então, eu fui construindo uma autoestima com o tempo. Foi só depois dos 30 que eu fui entendendo que a beleza vem de vários outros lugares, não somente do jeito que você fotografa ou do jeito que a roupa cai em você, mas também da sua força e, uma vez que você percebe isso, você se enxerga diferente e se abraça. 

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Paola Carosella
Paola nos recebeu em sua casa para mostrar um ensaio sobre uma manhã tranquila: do acordar ao almoço (Nani Rodrigues/BOA FORMA)

Você não escolheu uma profissão que tipicamente vem com a fama, ela veio “sem querer” pra você. Como você lida com esse interesse todo?

Cinco milhões de seguidores para uma cozinheira são muito seguidores! E, como você falou, eu não cresci querendo ser atriz e não sou famosa porque eu sou absurdamente bonita ou com um corpo absurdamente belo ou como um talento incrível para cantar… Eu sou uma cozinheira de outro país, órfã, que apanhou para chegar onde chegou, então talvez isso me deixe mais acessível às pessoas mas eu não deixo isso subir à minha cabeça. Eu estou ainda tentando entender como se lida com esse interesse todo.  O que fazer com ele, como retribuir, sem deixar de viver minha vida por conta do interesse dos outros nela.

Paola Carosella
“Eu aprendo muito com mulheres, me sinto acolhida, não me sinto invejada. Muito pelo contrário” (Nani Rodrigues/BOA FORMA)

Você recentemente passou por uma separação [em setembro de 2021]. Foi uma decisão “do nada” ou era algo que já vinha sendo pensado?

Não foi do nada. A gente teve dois anos muito difíceis e chega um ponto em que a gente tem que se perguntar até onde você tem que lutar por um relacionamento, até onde vale a pena sofrer? E eu lutei muito para esse relacionamento dar certo. Fiz tudo que estava ao meu alcance e mais. E eu sei disso por minha experiência e por testemunhas, pessoas que acompanharam esse processo e que uma hora até me falaram “acho que você já fez tudo que podia”. Eu acredito que ele também fez tudo que podia e tudo que estava ao alcance dele, mas tinham algumas coisas que eram muito difíceis de lidar.

É muito difícil para um homem aceitar o sucesso de uma mulher, e você vai criando desculpas pela pessoa porque você ama ela, “putz, é difícil pra ele porque ele não trabalhou durante a pandemia”, “é difícil porque ele não é brasileiro e não fala português”… Só que eu também não sou brasileira e fiz um esforço para falar. Mas você vai tentando entender onde o outro está para ver como você pode ajudá-lo. Só que chega um momento em que você fez de tudo pra ajudar a pessoa a lidar com aquilo e o próximo passo seria você se limitar para não incomodar o outro. E eu sou feliz comigo mesma e trabalhei muito para minha felicidade. Eu não nasci em um berço feliz, com uma família feliz, não tive uma adolescência e uma juventude feliz… Pelo contrário, eu trabalhei muito pelas minhas conquistas. Eu tenho todo direito de ser feliz sem empecilhos. Eu não quero deixar de ser feliz para fazer espaço para o outro.

Paola Carosella
“Faço questão de jantarmos juntas [com sua filha] todos os dias, acordar juntas, passar as férias juntas” (Nani Rodrigues/BOA FORMA)
Sobre sua maternidade, não dá para falar dela sem falar da sua relação com sua mãe, que foi difícil. Com ela distante, da onde você diria que “aprendeu” a ser mãe?

É uma construção e das mais difíceis! Porque acho que é o único jeito que a gente aprende algo “naturalmente” sobre como ser mãe ou pai antes de ter filho é tendo referências. Então quanto melhor o relacionamento com a sua mãe ou quanto mais rodeada de bons exemplos de maternidade (de tias incríveis, por exemplo), melhor. Isso acaba criando uma bagagem que “passa pelos poros”. Mas eu tenho uma bagagem muito grande de relacionamentos muito dolorosos: meu pai tinha transtorno bipolar e era ausente e minha mãe era super depressiva e, por mais que ela fizesse esforço, não foi uma mãe amorosa. Eu cresci muito sozinha, com muita solidão. Minha mãe nunca chegava antes das 11 horas da noite e ia embora às 7:30 da manhã. Nos finais de semana, ela se trancava no quarto por conta da depressão. Ser mãe já é difícil sempre, imagina se você não tem nenhuma referência… Eu fui atrás de muita ajuda: com terapia para mim, terapia para minha filha, terapia para mim com a terapeuta da minha filha… Muitos livros, dicas de amigas, muitos perfis no Instagram que falam de maternidade.

Paola Carosella capa Boa Forma
(Nani Rodrigues/BOA FORMA)

A gente de fora tem uma visão que o ambiente de uma cozinha é muito abusivo, até por certos programas de TV. Como é nas suas cozinhas?

Eu venho construindo desde o início para organizar ambientes em que ninguém precisa gritar com ninguém. Às vezes tem uns gritos.. umas chamadas de atenção, como em qualquer lugar que trabalhe com tensão, com o imediato, um restaurante é assim. Mas nunca gritando ou sem faltar com respeito. Eu gosto tanto de trabalhar na cozinha que eu criei um ambiente saudável para ser uma boa experiência. Isso que a gente vê na TV é um pouco exagerado. Obviamente existem lugares assim, mas também existem cozinhas muito saudáveis, só que essas relações boas não são interessantes para se tornar um programa de TV. 

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Paola Carosella
“A maneira como os alimentos são plantados e comercializados impactam a forma como a sociedade se organiza como um todo” (Nani Rodrigues/BOA FORMA)

Você fala muito sobre a importância da alimentação de verdade e acessível. Por que essa é uma pauta tão importante pra você?

Eu não consigo olhar para uma conta que não “fecha” e aceitar. Muita gente continua vivendo feliz sabendo que tem milhões passando por situações horríveis e é uma maneira deles de lidar, de tocar a vida, mas eu não consigo. É difícil, né, você tem que ter um equilíbrio porque você precisa continuar vivendo mas se tem algo que você possa fazer a respeito, eu acho que a gente tem que fazer. E, para mim, me manifestar sobre o fato de que a comida fresca está mais cara que algo processado é quase uma obrigação. Porque eu sei de onde vem esse preço. Eu sei que não tem nada a ver com o que as pessoas falam nas redes sociais, não vem da inflação própria da pandemia que atingiu o mundo inteiro, vem de políticas que vêm beneficiando um certo grupo. 

A maneira como os alimentos são plantados e comercializados impactam a forma como a sociedade se organiza como um todo. Além da alimentação saudável implicar na saúde do indivíduo, não só no impacto que os nutrientes têm na saúde mental, mas até no momento de cozinhar, porque você precisa dedicar um tempo ali, fazer algo com as mãos, se sentar em algum momento para comer.

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Então é algo que influencia demais a vida das pessoas e da sociedade.

Como entram os exercícios físicos na sua rotina de auto-cuidado?

Eu só comecei a fazer há um ano e meio. Eu tô mais organizada agora porque eu sempre trabalhei muito. Ser dona de restaurante implica você trabalhar das 7 horas da manhã à meia-noite todo santo dia. E aí entrou o Masterchef e eu comecei a gravar enlouquecedoramente todos os dias. Agora que trabalho em casa e posso ter uma rotina, eu comecei a fazer exercícios três vezes por semana e eu não abro mão, eu vejo que o impacto na minha saúde mental tem sido incrível.

Paola Carosella
A transparência da massa caseira é um dos pontos que ela presta atenção ao fazê-la (Nani Rodrigues/BOA FORMA)

Você tem algum grande sonho?

Eu tenho muitos sonhos mas eu acho que o maior deles é chegar um dia aos 65, 75 anos e não carregar em mim de jeito nenhum o peso de uma mulher velha, jamais me comparar a uma jovem. E isso é um grande desafio porque a gente tem, na sociedade, um culto à juventude que é muito forte. Mas meu sonho é ser livre e viver em plenitude com a minha idade, com as minhas conquistas e com as coisas que eu vou ter em volta. Nesse momento, eu acho que esse é um sonho bem ambicioso.

Você confere a entrevista na íntegra aqui.

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