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Nathalia Dill: jornada dupla

Capa da Boa Forma de junho, a atriz contou como administra a rotina corrida entre a vida profissional e o tempo com a filha

Por Ana Paula Ferreira
10 jun 2024, 10h00
Nathalia Dill
Stylist: Mariana Barreto | Beleza: Carol Ribeiro (Foto: Priscilla Haefeli/BOA FORMA)
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Mãe de Eva, de três anos e meio, Nathalia Dill se auto-intitula privilegiada por ter estado presente no início da vida da filha, que nasceu em meio ao isolamento social pela pandemia, em dezembro de 2020. No entanto, em 2022, a atriz viveu a temida separação da pequena quando voltou ao trabalho.

Passado um ano e meio da chegada da bebê ao mundo, ela decidiu retornar ao teatro e, com isso, viveu pela primeira vez o que chama de “desconexão”.

“Com dois anos, Eva falou que eu morava no teatro. Ela mal falava e já me deu essa entrada. Também teve um período de me rejeitar, de: ‘Não é assim. Você sai, volta e acha que vai estar tudo bem’. Porque a criança está eternamente nessa conexão e desconexão, então ela já não queria mais conectar e desconectar. Para ela, já estava duro, difícil. É complexo, porque por mais que fosse menos tempo, eu senti bem concretamente a desconexão de quando você realmente está ausente, mesmo que seja trabalhando”, lamentou.

Assim como tantas mães brasileiras, Nathalia tem hoje uma vida que se divide especialmente entre dois pilares principais: trabalho e maternidade. A rotina corrida, portanto, demanda a jornada dupla que, para a atriz, não permite qualquer romantização.

A seguir, você confere nosso bate-papo com Nathalia Dill, onde ela fala sobre as dores e as delícias de ser mãe, como mantém sobre os cuidados com o corpo e a mente e as novidades sobre a carreira artística.

Nathalia Dill
Nathalia Dill é capa da edição digital de junho/2024 de Boa Forma (Foto: Priscilla Haefeli/BOA FORMA)

Saúde mental

O que te faz sentir bem?

Estar com as pessoas que gosto. E gosto muito de fazer coisas que relaxam, como uma massagem quando dá, ou pegar um sol na praia. Essas coisas que me relaxam já são, para mim, um programão. Geralmente quando eu estou com as pessoas que gosto, com a minha família, meus amigos, fico muito energizada, ou quando saio para jantar com alguns amigos ou recebo em casa. Sempre fico muito feliz depois. Não precisa de nada mirabolante, um programa com piscina, um museu… Claro que é muito legal fazer essas coisas diferentes, mas é tão bom ficar ali na sala conversando.

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Você faz terapia?

Sim, acho que é imprescindível. Claro que não é todo mundo que pode, mas é imprescindível esse lugar que você vai ter separada uma hora do seu dia para poder refletir e parar, pensar, elaborar. A gente até vê como é diferente quando a pessoa está fazendo, quando não está, como que ela chega muito mais rápido e descobre os caminhos… Mas também não acho que seja uma obrigação. Tive alguns momentos no qual também falei: “Ai, cara, agora acho que quero ficar um pouco sem respeitar isso”. Me questiono sobre essa obrigatoriedade também. Mas é legal quando você também fala: “Não, agora não quero”, e depois volta e fala: “Não, pelo amor de Deus. Viajei! Agora preciso voltar” [risos].

Nathalia Dill
Stylist: Mariana Barreto | Beleza: Carol Ribeiro (Foto: Priscilla Haefeli/BOA FORMA)

Beleza por saúde

Qual é a sua relação com a beleza? Você se considera vaidosa?

É difícil essa palavra “vaidade”, porque vou muito mais para o lugar da saúde do que do estético. É claro que tem uma vaidade de se cuidar, mas quando sai da saúde, eu rejeito. Uma magreza extrema ou uma coisa estética muito extrema, muito distante do que eu sou, não consigo muito assimilar. Então sempre vou muito para parte da saúde mesmo, até porque acho que talvez o meu ponto mais crítico seja a acne. Tenho muita, ela vai e volta, então é uma coisa que eu sempre tenho que olhar. Então é um cuidado estético mas, ao mesmo tempo, é uma predisposição… E até onde interferir nisso é saudável ou não? Até onde é preferível deixar um pouco isso acontecer, esse funcionamento que eu tenho?

Nathalia Dill
Stylist: Mariana Barreto | Beleza: Carol Ribeiro (Foto: Priscilla Haefeli/BOA FORMA)

Você já posou diversas vezes nas redes sociais mostrando sua beleza natural. E nós sabemos que sua profissão exige muito no quesito “montagem”, de make e cabelo. Você se sente bem se mostrando sem toda essa produção?

Sim, muito. Eu nem paro para pensar muito nisso, porque é muito natural. Na verdade, acho que existe também uma pressão estética no feminino para isso. Porque fico pensando assim: “aqui [no trabalho] tem maquiadores e tal, mas qualquer mulher que vá fazer uma reunião de negócios, uma venda, também não vai estar sem maquiagem. Então é uma pressão geral para ela estar nesse lugar.” Então acho que todas as profissões tem uma pressão. Vejo as aeromoça, que tem que estar de salto. A mulher ali tem que ser preparada para salvar vida, e ela está com uma saia lápis. Nem sei se alguns já mudaram, mas geralmente é um salto, uma maquiagem impecável … Então acho que tem essa coisa das profissões femininas. Veja minha irmã mesmo, que trabalha em uma empresa e está sempre se maquiando. Também vejo aqui [no Projac] quem não está na frente da câmera, mas também se maquia. É uma pressão mais estética no universo feminino mesmo, dessa exigência de que se você não está maquiada e arrumada, você está descuidada. Isso sempre me incomodou um pouco. É claro que gosto de maquiar, mas ao mesmo tempo acho que a pressão é que é ruim, sempre me incomodou um pouco. Porque se eu estou normal, mas quero me maquiar para um show, por exemplo, passar um batom vermelho, eu vou usar mesmo porque estou afim. Mas se eu não tiver afim, também não quer dizer que vou estar descuidada, que não vou estar prestigiando o evento.

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Nathalia Dill
Stylist: Mariana Barreto | Beleza: Carol Ribeiro (Foto: Priscilla Haefeli/BOA FORMA)

Você acha que essa falta de “obrigatoriedade” de sempre estar arrumada tem mudado com o passar do tempo, com as pautas feministas?

Com certeza. Até das aeromoças que falei: outro dia eu vi uma foto de uma empresa que botou uma roupa que seria uma roupa ideal de alguém que vai estar ali, com um tênis, macacão… Esse diálogo está muito mais aberto e o legal do feminismo é justamente isso, você tirar a obrigatoriedade, mas não necessariamente impoe à outra. Eu não tenho obrigatoriedade de ficar me maquiando, mas se eu quiser, posso e vou. Acho que esse é o ponto onde me encaixo, talvez isso que me defina: tirar a obrigatoriedade da maternidade, tirar a obrigatoriedade da mulher ser dona de casa. Se não quiser, beleza. Acho que você poder dar esse livre arbítrio que não é dado. E isso vai em tudo né? Desde a maternidade até a maquiagem. Está em tudo.

Nathalia Dill
Stylist: Mariana Barreto | Beleza: Carol Ribeiro (Foto: Priscilla Haefeli/BOA FORMA)

Maternidade real

Eva está com três anos e meio, mas desde seu primeiro aninho e meio você voltou a trabalhar. Como foi ter que dar esse passo de se “separar” dela para voltar ao trabalho?

Primeiro, me sinto privilegiada por poder ficar tanto tempo com ela. Aqui no Brasil, a gente tem uma licença de seis meses, que é justamente quando a criança começa a entrar na introdução alimentar, que é um processo super complexo e é a hora que a mãe se ausenta. Então, tive privilégio de poder passar por todas essas etapas. Mas essa separação nunca é fácil. O teatro, por ter uma jornada com menos horas e menos dias, foi uma separação um pouco mais acolhedora, mas não deixou de ser muito difícil, porque bem ou mal, juntou com a entrada dela na escola.

Quando entrei em cartaz, eu ficava todas as noites fora, o que foi uma coisa incrível por ter lotado os quatro dias mas. ao mesmo tempo, eram quatro noites sem ela. Eram mais noites sem ela do que com ela. Foi bem complexo de administrar, porque o teatro vai nesse contra fluxo da vida: enquanto está todo mundo na pausa, você está em atividade. No fim de semana, quando ela tinha aquele espaço para ficar com a família, era quando eu já não estava, porque fiquei fazendo turnê pelo Brasil. Era bem nos momentos que ela mais estava em casa que eu não estava. Então, por mais que [o teatro] tenha sido um momento de menos na carga horária, acabou que foi mais difícil de administrar no cotidiano.

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Com um ano e meio, dois anos, a criança não é mais aquele bebezinho, mas o emocional já está muito mais ligado. Ela já entende mais coisas, mas não tanto: ela já entende que eu estou indo embora, mas não entende muito como aquilo vai acontecer. Agora, por exemplo, com três anos, eu já consigo conversar mais com ela. Por mais que ela sinta a separação, eu já consigo fazer com que ela compreenda um pouco melhor.

Nathalia Dill
Stylist: Mariana Barreto | Beleza: Carol Ribeiro (Foto: Priscilla Haefeli/BOA FORMA)

Você conta com uma rede de apoio para conciliar a vida profissional com a maternidade?

Sim. Tenho meu marido, que na verdade não é rede de apoio, obviamente, mas ele trabalha em casa, o que já faz com que a presença seja bem mais ativa. Mas, ao mesmo tempo, fica mais desequilibrado, porque só um sai. A gente tem também a rede de apoio paga e eu moro perto dos meus pais, que são muito presentes e que também conseguem estar junto. 

Quando você sai, quem é que sente mais falta?

Não sei botar numa balança quem sofre mais. Por um lado, pelo fato de eu estar em outro Estado, eu conseguia pelo menos dormir uma noite inteira. Muito bom [risos]! Isso foi um conforto mas, ao mesmo tempo, você fica tentando conexão, tentando participar, estar presente. Ela sempre se comunicou muito bem, até quando não falava, sempre deixou muito claro o que ela queria. Com dois anos ela falou que eu morava no teatro. Ela mal falava e já me deu essa entrada. Então ela deixa tudo muito claro, sempre deixou. Também teve um período de me rejeitar, de: “Não é assim. Você sai, volta e acha que vai estar tudo bem”. Para ela já estava duro, difícil, então ela já não queria se conectar comigo porque não queria ter que desconectar. É complexo, eu senti bem concretamente a desconexão. Ao mesmo tempo, tenho períodos no qual consigo estar bem mais presente. É que realmente não é constante.

Nathalia Dill
Stylist: Mariana Barreto | Beleza: Carol Ribeiro (Foto: Priscilla Haefeli/BOA FORMA)
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Você chegou a pensar em parar de trabalhar para poder ficar mais com ela quando sentiu essa desconexão?

Quando deu um ano [de teatro], ainda tinha uma proposta de fazer outra turnê. Eles queriam fazer mais tempo de turnê, com 16 semanas, e aí eu falei: “Não, espera aí, calma. Agora não dá”. Porque Eva ainda estava muito pequenininha, não dava nem para levá-la direito. Quando já está um pouco maior, dá para levar e ela se diverte, se distrai. Mas ela ainda estava tão bebê no período, que levar seria “trancá-la” no quarto de hotel sem estar ali com a rotininha na escolinha, com os amiguinhos, que é um cotidiano que ela gosta. Ela sempre deixou muito claro que gosta desse cotidiano. Quando ela sai dele, deixa claro que quer voltar.

Antes de engravidar você já tinha falado algumas vezes sobre o desejo de ser mãe. Você tinha idealizações sobre a maternidade antes da Eva? 

Claro que eu tinha. Óbvio. Tinha certeza, por exemplo, que se eu tivesse paciência e não me estressasse ela não ia dar show, espernear no meio da rua, ou que eu ia conseguir dormir, que se fizesse tudo certo ela dormir a noite inteira. A gente acha que se a gente fizer tudo certo, não vai ter problema, que se os pais têm problemas é porque fizeram errado. Na idealização é “eu vou fazer tudo, vou me dedicar” e a verdade é que não é assim. Acabei de ler um livro muito legal de dois especialistas americanos que trabalham com neurociência. São dois livros, um sobre o cérebro da criança e o outro sobre disciplina. E aí numa parte um deles falou justamente isso, que é maravilhoso: “Às vezes não vai funcionar e ponto. Fique tranquilo”. Às vezes você tem um método, um direcionamento, uma compreensão do que está acontecendo, mas às vezes não. A criança tem o tempo dela. Às vezes não dá certo e na próxima pode dar, mas nessa aqui não está dando. Essa noite vai ser inteira acordada e tudo bem, numa próxima vai melhorando aos poucos, numa próxima vocês vão se entendendo, numa próxima a relação vai sendo construída… É muito fácil achar que porque você quer ou porque você vai estar ali disponível, não vai ter alguma questão. É outro ser humano. Por exemplo, no meu trabalho, eu só estava indo trabalhar, não estava fazendo nada de errado, e mesmo assim gerou uma desconexão, ruídos e dificuldades, e eu não estava fazendo nada de errado. Isso não significa que não vai ser difícil, que não vai ser dolorido.

Nathalia Dill
Stylist: Mariana Barreto | Beleza: Carol Ribeiro (Foto: Priscilla Haefeli/BOA FORMA)

Logo depois do nascimento dela, alguns conteúdos de maternidade real em sua rede social acabaram repercutindo. Tiveram foto de biquíni na praia, relatos sobre a visão equivocada sobre ser mãe…  Você como pessoa pública sentiu a importância em dividir isso com as pessoas para ajudar a “desromantizar” essa idealização que muitas mulheres criam? 

Acho que também tem a ver com esse privilégio. Eu tive essa sorte, esse privilégio de exercer a maternidade no momento em que isso já era muito mais falado, muito mais discutido. Tenho amigas que tiveram filhos 10 anos antes, que foram as precursoras disso. A Carol Figueiredo falava muito na internet sobre isso e quando ela teve, há 10 anos, era muito mais romantizado. A Samara Felippo também fala bastante. São mulheres que tiveram filhos bem antes de mim, 10 anos antes – e isso não é muito, mas para o nosso diálogo, é muita coisa. Teve muita coisa acontecendo esses anos tanto na maternidade, quanto no feminismo. Todos esses diálogos se abriram há muito pouco tempo.  Essa conversa já estava sendo muito mais posta, eu fiz um curso que foi muito legal quando eu tava grávida com um conjunto de doulas que fazia os cursos pré-natal. E muitas das coisas que elas falavam também eram da preparação emocional, porque é complexo. Então eu já fui me preparando mais emocionalmente.

Acho que a gente já fala muito mais sobre isso, e é engraçado porque eu nunca consegui ser radical em nada na minha vida. Gosto muito desse esse equilíbrio. Antigamente só se falava bem. Agora a gente ficou falando só as coisas ruins. E eu acho que é importante a gente falar dos dois. Cara, também é incrível, também é maravilhoso! Eu queria muito ser mãe, mas também é muito complexo, muito difícil. Você realmente tem que abrir mão de muita coisa e é caro para caramba, sabe? [risos]. E a sociedade não ajuda, mas ao mesmo tempo é uma delícia, é incrível e é uma coisa que eu sempre quis ser também. Nunca me vi sem a possibilidade de ser mãe, de não passar por essa experiência. Sempre quis engravidar, amamentar, ter todas essas vivências. Mas mesmo querendo ter, realmente não é fácil. Não é uma coisa que é só prazer. Tem muitas compreensões ao longo disso, do parto, da gestação, do seu corpo virar outro, seu corpo ser atravessado, sugado. São vivências muito prazerosas, mas que também podem ser muito dolorosas.

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Nathalia Dill
Stylist: Mariana Barreto | Beleza: Carol Ribeiro (Foto: Priscilla Haefeli/BOA FORMA)

O que mudou na Nathalia mulher depois que você se tornou mãe? 

Como ser humano, como mulher, acho que meu cérebro é outro. Acho que estou com uma coisa muito específica, uma sensibilidade sonora muito mais alta para barulhos. Não sei direito, mas acredito que rola alguma coisa no cérebro, que realmente se modifica, para você conseguir ouvir o choro, ouvir as coisas. Então minha sensibilidade sonora aumentou para tudo. Me sinto muito mais sensível aos barulhos. E acaba que a gente fica realmente um pouco mais atribulado, porque é muito mais coisa para acoplar no cérebro. Uma saída de casa, por exemplo, não é só uma saída, pegar o celular e sair. Você tem que pensar em toda uma logística. Para mim isso foi muito sofrido também, acoplar todas essas coisas do cotidiano e o tempo. Antigamente, eu fazia várias protagonistas, mas chegava em casa e conseguia comer, tomar meu banho, relaxar, estudar um pouquinho… Agora não. Agora eu chego e fico com a Eva. E aí o tempo para mim, como mulher, como profissional, ficou realmente muito mais reduzido. Por isso que não consigo até mesmo achar um horário para fazer outras coisas, até uma entrevista em si. Quando chego em casa,  não quero estar dando uma entrevista no celular, com ela em outra sala. Quando chegar em casa, vou priorizar estar com ela. Se eu puder colocar essa entrevista em outro momento, vou fazer. Então eu também priorizo os momentos que posso ficar com ela.

Você tem vontade de ter mais filho?

Tenho uma grande dúvida ainda. Não tenho essa definição.

Nathalia Dill
Stylist: Mariana Barreto | Beleza: Carol Ribeiro (Foto: Priscilla Haefeli/BOA FORMA)

Cuidados por fora e por dentro

Como foi ver seu corpo passando por tantas mudanças ao longo da gestação e do pós-parto?

Eu adorei. Essa é a parte em que não vou fazer coro com o outro lado. Eu realmente adorei, achei muito legal. Claro que tiveram momentos mais complexos, de ter um pouco mais de dor, de incômodo. O início foi na verdade muito difícil, não pelo corpo, mas pela sensação mesmo. Fiquei muito frágil, sem vitalidade, sem forças, enjoada, sem energia, muito cansada naquele primeiro trimestre. Era pandemia também, bem na pior fase da pandemia, e eu  queria fazer coisas, ir à praia tomar um sol, e não podia porque a gente estava ali trancado. Mas, ao mesmo tempo, eu não conseguia fazer nada muito prático, porque fiquei bem aérea. Foi bem difícil esse primeiro trimestre. E meu marido desesperado, tipo: “Que doença é essa?” [risos]. É realmente muito doido, porque tem mulheres que não têm isso, e eu ficava só pensando numa amiga minha que trabalhou, para perguntar para ela como é que ela fez, porque se eu tivesse trabalhado, meu Deus do céu. Cada gestação é uma, cada corpo é um, então não tem uma regra. Mas aí quando passaram uns três meses foi muito legal, eu adorei. Voltou toda a minha energia e aí adorei ficar vendo a barriga. Ela não cresceu tanto, só foi crescer mais para o final mesmo, então eu não me sentia muito debilitada, tanto que as fotos do dia que a bolsa estourou parece que eu estava de 6, 7 meses ainda. Não era aquela barriga que chegava a me incomodar, então eu estava adorando, foi muito gostoso.

Nathalia Dill
Stylist: Mariana Barreto | Beleza: Carol Ribeiro (Foto: Priscilla Haefeli/BOA FORMA)

No pós-parto, você fez o treino de LPF (Low Pressure Fitness) para recuperar o corpo no sentido físico e de saúde. Como essa atividade te ajudou?

O pós-parto já é outro corpo, um corpo mais complexo. Achei mais difícil do que o da gravidez, porque já não tem uma criança ali, mas as roupas que cabiam antes ainda não cabem. Eu perdi quase todas as minhas calças durante dois, três anos. Então achei o corpo do pós-parto mais complexo. Realmente era um terceiro corpo. Você fica meio: “Que corpo é esse, que não é o de antes, não é o da gravidez?”

E ainda tem a exaustão de você estar ali nos primeiros cuidados do recém-nascido, muito mais cansada, com privação do sono… Então se entender ali naquele lugar de o corpo estar ativo para cuidar de um outro ser e ainda se cuidando, foi bem difícil. E aí sobre o LPD, eu nunca tinha ouvido falar, mas a Carol Lemes me procurou e a gente fez os treinos pela internet e, depois, ela foi lá em casa e dizemos os presenciais. Eu achei muito interessante. É você realmente exercitar e manipular a musculatura interna do corpo, malhar uma musculatura que a gente não faz com tanta consciência, tanta precisão, quando faz os exercícios mais externos. Achei bem legal. E é um exercício que você também pode fazer em conjunto. Se você se organizar, se conscientizar, você consegue fazer na academia levantando um peso, por exemplo.

Nathalia Dill
Stylist: Mariana Barreto | Beleza: Carol Ribeiro (Foto: Priscilla Haefeli/BOA FORMA)

E hoje em dia, você manteve esse tipo de treinamento? Pratica alguma atividade física?

Não mantive, mas é erro meu. Às vezes faço sozinha um pouco. Não é que abandonei total. Tenho isso como uma ferramenta a mais. Não é que eu pratique todo dia, 15 minutos por último dia como ela pede, mas é uma ferramenta que eu tenho. E eu sempre gostei muito de variar, sempre fiz muitas coisas, fui muito ativa desde criança desde danças e até experimentações com acrobacia, capoeira … Um dos que mais gostei foi o levantamento de peso olímpico, mas com a gravação [da novela “Família é Tudo”] não estou podendo. E aí também cansei de marcar hora com as pessoas. É muito chato vir o roteiro de gravação, que dura uma semana, e aí ter que marcar um monte de coisa. Quase não tenho tempo. E aí falei: “Cara, não quero marcar hora com ninguém, com personal, com professor, com coisa nenhuma. Quero ficar independente”.

E, nessa, a academia entrou de uma forma muito boa. Tenho a minha série, vou na hora que quero, então acabou me libertando um pouco. Está muito bom assim. É uma ferramenta a mais, que posso usar qualquer hora, ao invés de fazer uma aula específica, marcar uma hora, marcar algum negócio… Isso estava me deixando louca.

Nathalia Dill
Stylist: Mariana Barreto | Beleza: Carol Ribeiro (Foto: Priscilla Haefeli/BOA FORMA)

Você se alimenta bem por saúde ou porque gosta?

Acho que os dois. Se eu fico comendo mal muitos dias, começa a me dar um enjôo, mal-estar, o corpo não trabalha tão bem, começo a ficar com um pouco mais de muco… Então sinto que meu corpo mesmo não me deixa ficar comendo mal. Mas comer bem é algo que já está implementado na minha rotina. Não tenho que parar e pensar muito sobre isso, sobre o que vou comer de saudável agora. Já está ali o restaurante que costumo ir [no Projac] e tem a comida em casa, que também é feita já pensada para isso. Então já não tenho que pensar muito sobre isso. E aí quando quero sair da rotina, é uma opção minha, de sair, pedir alguma coisa, ir a algum restaurante.

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Stylist: Mariana Barreto |
Beleza: Carol Ribeiro (Foto: Priscilla Haefeli/BOA FORMA)

Vida profissional em movimento

Depois de quase cinco anos, você decidiu voltar ao ar com a novela “Família é Tudo”. Por que você quis esperar esse tempo todo?

Eu acho que é muito mais circunstância do que opção. A gente teve dois anos de pandemia. Nossa profissão é assim: momentos, situações… As pessoas têm uma ilusão de que a gente tem tudo tratado. A gente vai se projetando, se organizando, mas as coisas também não têm regras e são muito fluidas. Essa volatilidade da profissão é o grande “xadrez” da história. Se você parar para pensar, teve uma pandemia de dois, praticamente três anos. Em 2022 é que as coisas estavam voltando mais no audiovisual. Então como eu tinha acabado de fazer “Dona do Pedaço” e rodei um filme em 2020, eu já estava querendo dar essa pausa por causa da maternidade. Eu tinha tirado aquele momento para engravidar e foi um momento em que as produções pararam. Foi uma parada muito natural, do que estava estabelecido. Não consigo botar na balança o mercado, a pandemia ou a maternidade. Foi tudo junto para mim. Eu estava vivendo minha licença, meu puerpério. Então, quando me senti apta a voltar, voltei, fazendo teatro. Quando as coisas foram voltando à normalidade, eu fui junto.

O que te fez aceitar o papel de Vênus em “Família É Tudo”?

Eu gosto muito do trabalho do Daniel Ortiz e do Fred Mayrink [autor e diretor artístico, respectivamente]. Eles têm uma linguagem muito popular, dialogam com uma rede muito plural do Brasil. A história me comoveu muito por serem cinco irmãos, por falar sobre irmandade e sobre a relação neto/avô. E eu também gosto de fazer obra aberta, é uma experiência muito legal. Novela faz parte da nossa Cultura, é um patrimônio histórico, então participar desse movimento, poder dialogar com o Brasil todo e ter pessoas de diversos tipos consumindo a mesma arte é um exercício muito profundo do nosso ofício. Eu adoro transitar por essas três linguagens: cinema, teatro e novela.

Nathalia Dill
Stylist: Mariana Barreto | Beleza: Carol Ribeiro (Foto: Priscilla Haefeli/BOA FORMA)

Além da novela das sete, você também gravou “Guerreiros do Sol”, que ainda vai estrear no Globoplay. Pode contar um pouquinho como foi esse trabalho?

“Guerreiros” é uma série, streaming, não é uma obra aberta. Tem outro formato de fazer, então não é uma história que vai acontecendo, se modificando, e as pessoas vão dialogando com ela. É uma obra fechada muito longa também, porque esse é outro formato novo. As séries que a gente vê costuma ter 10 episódios, e nela tem 45, é uma telesérie, que é o que todos os streamings estão fazendo, novelas como “Beleza Fatal”, “Dona Beija”… Todos têm esse formato, que é um formato novo também. Então todo mundo ainda está entendendo como fazer esse formato, como se preparar, estudar de uma vez 45 episódios. Numa novela, por exemplo, nós gravamos muito mais, mas não fazemos o início e o final, não gravamos o capítulo 1 junto com o 180. E nessa série não, nós fazemos o início e o fim, juntos, o tempo todo. Então tem outra forma de estudo, de compreensão, de leitura. E “Guerreiros” tem menos cenas, mas são mais impactantes, marcantes e profundas. É quase como se fosse um episódio impactante por dias. São menos cenas, mais compactadas. E a história foi muito legal. Era uma personagem que tinha câncer em 1920, que era quase uma sentença de morte, e mostra uma virada, dela se reerguendo, se reestruturando, dando a volta por cima. A série representa muito essas mulheres, de quando os homens morrem nas guerras, no Cangaço, como que elas ficam, como elas se juntam e se empoderam. Essa personagem é abandonada por dois maridos e ela se reergue, consegue se curar e se apaixonar e viver. Ela é bem forte e na verdade representa o feminino daquela época, o feminino que é acuado e desprezado, porque os homens têm nojo daquele câncer, mas ela consegue se curar e se redescobrir. Ao mesmo tempo, você fica: “Que doido. Cem anos atrás e, ao mesmo tempo, vemos essas histórias acontecendo hoje em dia, de mulheres sendo abandonadas no tratamento”.

Nathalia Dill
Stylist: Mariana Barreto | Beleza: Carol Ribeiro (Foto: Priscilla Haefeli/BOA FORMA)

O que você gostaria de fazer profissionalmente que ainda não fez?

Tenho muita vontade de dublar um desenho. Muito específico, né? Morro de vontade de fazer isso. Claro, tenho mil outros desejos, mas tenho vontade de dublado um desenho e isso eu nunca fiz.

Para finalizar, quais são seus maiores desejos para o futuro?

Continuar vivendo da minha arte profissionalmente e que o mundo não colapse. Estamos vivendo momentos tão difíceis (como o que aconteceu no Rio Grande do Sul), que temos que estar cada vez está mais atentos, pois estamos cada vez mais conectados. Uma coisa que um país faz afeta diretamente o outro ecologicamente, economicamente… Então a gente tem que ter cada vez mais conscientização. Parece ser uma coisa tão absurda falar sobre ecologia, sobre o meio ambiente, mas hoje em dia vemos que é algo que não dá mais para negar.

 

Boa Forma
Diretora de núcleo:
Helena Galante
Redatora-chefe:
Larissa Serpa
Texto de: Ana Paula Oliveira
Diretora de arte: Kareen Sayuri
Apoio de arte: Anamaria Sabino

Fotos
Fotógrafa:
 Priscilla Haefeli
Stylist: Mariana Barreto
Beleza: Carol Ribeiro

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