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Luto coletivo: por que choramos a morte de Marília Mendonça?

Dentre todas as perdas vividas, algumas parecem acertar em cheio o coletivo. Por que isso acontece? E como lidar com esse luto?

Por Marcela De Mingo
Atualizado em 3 jan 2022, 14h46 - Publicado em 2 jan 2022, 08h00
luto coletivo
 (Polina / Pexels/Divulgação)
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No último ano, acompanhamos de perto a morte de dois grandes nomes brasileiros: Paulo Gustavo e Marília Mendonça. Dois nomes entre tantas perdas que o Brasil teve nos últimos dois anos, é fato que quando o assunto são pessoas queridas além do seu círculo pessoal, o luto deixa de ser individual para ser coletivo. 

Mas para compreender porque mortes como a do ator e da cantora tocaram de forma tão profunda o coração coletivo, é preciso compreender, primeiro, o que é o luto e como ele é experienciado. 

O que é o luto coletivo? 

Segundo Freud, o luto é um trabalho psíquico. O famoso psiquiatra, ao falar do assunto, traz uma conotação fundamental: o luto é trabalho. “É o trabalho do psiquismo para elaborar a experiência da perda dos objetos investidos de amor, de afeto… A cada experiência de perda, a gente tem que elaborar o luto por aquele objeto perdido”, diz Gabriela Malzyner, psicóloga e psicanalista do Meniá Centro de Prevenção. “O luto é uma experiência individual como trabalho psíquico, mas ele também é marcado no social quando existem modificações, e a gente vê cenários acontecerem coletivamente.” 

Já para a psicóloga, psicodramatista e terapeuta familiar Marina Vasconcellos, o luto é uma sensação individual que pode ser coletiva a partir do momento que acontece uma tragédia que afeta muitas pessoas, como terremotos, furacões ou atentados. “Cada um vai viver da sua forma, por isso que é individual dentro do coletivo”, explica ela. 

Como lidar com o luto? 

Segundo Gabriela, o luto precisa ser traduzido como uma possibilidade de falar sobre as experiências de perda. Questionar-se “o que foi perdido?” não de forma retórica, mas buscando compreender a significância dessa perda é um primeiro passo essencial. “O que eu experimento com as perdas não é idêntico ao que o outro experimenta com as perdas, mas já com um lugar de simetria no vivido coletivamente”, continua.

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Aliás, de forma individual, Marina explica sobre a importância de colocar para fora as emoções sentidas e derivadas do luto. Afinal, não só de morte se vive um luto. Ele pode surgir no cotidiano de muitas maneiras, como a perda de um emprego, o fim de um casamento, até mesmo o romper de uma amizade muito querida. “É importante entender o que ficou faltando, qual o lugar que aquilo ou aquela pessoa deixou na sua vida, entrar em contato com essa falta, ver possibilidades de como lidar, como seguir em frente, falar tudo o que ficou por falar, colocar para fora o não dito…Você elabora situações onde não foi possível elaborar ou realizar enquanto a pessoa estava ali. É importante olhar para aquilo que se foi, que se perdeu, e entender que lugar ficou vazio na vida e elaborar. Trabalhar para que seja possível reconstruir e seguir em frente”. 

Gabriela reforça essa ideia: “Um dos elementos principais é poder falar sobre. Para que isso não fique numa zona disforme sem uma historicização dos acontecimentos e uma reflexão do que foi perdido com aquela experiência de luto específica. “

Às vezes, um luto pode durar muito tempo e se transformar em depressão. Não existe tempo certo para o fim de um luto, mas entre seis meses a um ano, diz Marina, é um período considerável para lidar com essa perda. Mais do que isso, a tristeza e a falta decorrentes do luto podem desencadear o quadro depressivo

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“Terapia é a melhor forma de lidar. Você vai entrar em contato, elaborar as emoções, entender o que está fazendo falta, o que você perdeu… Tem terapias de grupo específicas de luto, grupos de pessoas que perderam, em especial, pessoas e animais de estimação.”, conta. “Dividir com outras pessoas o que você está passando faz muito bem, porque você se sente acompanhado, acolhido. Você consegue sair melhor dessa fase de luto”. 

Para Gabriela, existe um outro ponto importante a se considerar quando falamos de perda: o luto não se produz rapidamente, da noite para o dia. Ele se desenrola com o tempo e com os acontecimentos. “A gente vai se deparando com a falta nos diferentes momentos com a vida”, explica. “Se tem um sofrimento agudo ou persistente, inibidor, então a gente está falando de um luto patológico e de um quadro de melancolia, e eles precisam ser tratados. É sempre necessário buscar ajuda profissional para a elaboração do luto. Num acompanhamento psicoterápico para que de alguma forma seja reconhecido e pensado, na parceria com o terapeuta, porque está impossível elaborar a perda”, finaliza. 

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