Há pouco tempo, Fiorella Mattheis falou pela primeira vez sobre o seu explante de silicone. Ela não foi a única: a ex-Spice Girl Victoria Beckham e a atriz Ashley Tisdale também entraram no coro de mulheres que decidiram tirar os implantes de silicone. Os motivos variam, mas costumam cair em duas categorias: estética ou saúde.
O que é um explante de silicone?
Assim como o implante, o explante de silicone é uma cirurgia que retira o implante ou prótese mamária. É curioso perceber que o assunto virou tendência nas redes sociais, muito alimentado pelas discussões iniciadas pelas próprias celebridades, que abriram o jogo sobre o procedimento, e, desde fevereiro de 2020, o assunto viu um boom nas buscas no Google – dizem que o aumento foi de 170%.
Mas a pergunta que fica é: por que tantas mulheres começaram a falar sobre isso na internet? “São, na maioria, mulheres que atribuem às próteses mamárias sintomas como dores articulares, musculares, fadiga, perda de cabelo e até mesmo alterações de peso”, explica a cirurgiã plástica Juliana Sales, do Rio de Janeiro. “Elas se autodiagnosticam com ‘Breast Implant Ilness – BII’ ou Doença de Silicone. Estudos têm sido realizados nesta área, porém, até o momento, não há comprovação científica que embase essa relação das próteses com os sintomas descritos”.
De acordo com a médica, o explante é uma opção por alguns motivos. Em termos de estética, passa por insatisfação com o aspecto atual ou arrependimento. É o caso de Victoria Beckham, que chegou a comentar na mídia internacional que, um tempo após a cirurgia, não se sentia bem com os seios maiores. É comum, também, casos de mulheres que colocaram o silicone muito novas, provavelmente movidas por um desejo de se encaixar mais em um padrão de beleza, e se arrependem depois. “Por isso a importância de se pensar muito bem antes de decidir fazer uma cirurgia”, continua a médica.
Já os principais motivos relacionados à saúde são:
- Alcl – Linfoma anaplásico de grandes células: um caso raro de câncer associado às próteses;
- Síndrome Asia (Síndrome autoimune induzida por adjuvantes): uma doença autoimune que pode ser induzida pelas próteses;
- Contratura capsular: reação do organismo que gera uma membrana endurecida ao redor da prótese;
- Ruptura da prótese.
Como saber se tem algo errado com o implante de silicone?
Muitas mulheres falam que, em dado momento, o corpo “rejeitou” o implante de silicone. De acordo com a médica, esse não é o termo correto – o ideal é dizer que existe uma infecção, um seroma ou uma contratura capsular.
Dessa forma, é possível identificar que existe uma questão relacionada ao implante quando o corpo dá os sinais típicos de, por exemplo, uma infecção: aumento e dor em um dos seios, região vermelha e inflamada, quente, indo até a febre. No seroma, existe uma produção de líquido que se acumula por uma reação inflamatória exagerada (às vezes, próximo à cicatriz da cirurgia) e que pode gerar deformações nos seios. Por fim, no caso da contratura capsular existe uma reação do organismo, que gera uma membrada endurecida ao redor da prótese e que evolutivamente pode gerar dor e deformações no formato das mamas.
Implantes nas mamas e doenças auto-imunes
Alguns parágrafos acima citamos a Síndrome ASIA, uma síndrome autoimune muito conectada com os implantes mamários. Mas é importante notar que não são os implantes que geram essas questões – no caso da ASIA, eles atuam como adjuvantes, ou seja, como auxiliares no desencadeamento da síndrome.
“Embora alguns sintomas da Síndrome ASIA sejam relatados no BII, é preciso notar que a Síndrome ASIA é uma doença reconhecida e apresenta critérios maiores e menores para seu diagnóstico, enquanto a BII não é uma doença reconhecida pela classe médica e não apresenta critérios definidos para diagnóstico”, diz a médica. “A relação da prótese de mama e ASIA ou doenças reumáticas ainda é inconclusivo.”
E a cirurgia, como funciona?
Em termos de contraindicações, elas são as mesmas para qualquer outra cirurgia, como alguma condição clínica que impeça o procedimento. “É claro que precisa ser levado em consideração que, dependendo do tamanho da prótese e da flacidez da mama, o resultado final pode ser esteticamente desfavorável, resultando em mamas flácidas e vazias, o que pode gerar a necessidade de retirada de excesso de pele levando a novas cicatrizes”, explica Juliana. “O procedimento tem as mesmas exigências pré-operatórias da colocação e deve ser realizada sempre por cirurgião plástico.”
E para quem optar por um explante, é preciso considerar o pós-operatório, que inclui repouso relativo e varia de acordo com a rotina de cada cirurgião e com a cirurgia realizada. O procedimento pode ir desde a retirada da prótese até um mais complexo, com retirada da pele para evitar uma flacidez proveniente do “esvaziamento” das mamas. “De forma geral, a paciente pode voltar a dirigir em duas semanas e a fazer atividades físicas em 20 a 30 dias”, completa ela.