Foto: Chris Parente
Ninguém é perfeito. A gente vive escutando e vira e mexe repete esse clichê, mas levá-lo a sério na própria vida é que são elas. Principalmente para nós, mulheres. É só reparar: estamos sempre em busca de perder 2 ou 3 quilinhos, por mais em cima que o corpo esteja. Se o cabelo é liso, dá-lhe baby liss para ganhar ondas; se é ondulado, a saída é apelar para a escova. Tudo por uma imagem melhor – porque parece que a nossa nunca está boa o suficiente. E a regra não vale só para a beleza. No trabalho, com a família, os amigos e no amor, a gente se desdobra para não falhar jamais. O que tem de ruim nisso, afinal? O que está por trás de tanta autoexigência: o medo de ser menos admirada e amada se cometer algum deslize. Cansativo, não? E perigoso: o preço de pegar pesado assim consigo mesma quase sempre é acabar boicotando a própria felicidade.
Mais compaixão, por favor
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É nisso que acredita a psicóloga americana Kristin Neff, professora da Universidade do Texas, nos Estados Unidos. Ela é pioneira no estudo de um novo campo da psicologia, a autocompaixão, e autora do livro Self-Compassion: Stop Beating Yourself Up and Leave Insecurity Behind (ou Autocompaixão: pare de se maltratar e deixe a insegurança para trás, ainda sem tradução em português). O conceito nada mais é do que aceitar o que a gente é, com as fraquezas e imperfeições que moram em cada uma de nós, e se tratar bem apesar delas. Em entrevista à BOA FORMA, Kristin explica: “A mulher que almeja a perfeição dificilmente aceita ficar na média, o que a impede de fazer uma boa avaliação de si mesma. Como tem medo de falhar, ela abre mão dos seus planos para não correr o risco de se sentir fracassada”.
De acordo com a psicóloga, quem exercita a autocompaixão tem menos risco de cair na armadilha de se julgar sempre de maneira negativa diante dos insucessos. Quem se cobra além da conta tem a tendência de encarar decisões aparentemente simples como cascas de banana jogadas no caminho, prontas para derrubá-la. Assim, diante de uma nova oportunidade de trabalho, está lá o diabinho soprando no ouvido: “Melhor fazer antes um MBA para se preparar”. O que a leva a ficar no mesmo lugar a fim de evitar o risco de não dar conta do desafio. Sair com aquele homem lindo? “Não antes de fazer uma dieta relâmpago para zerar a barriga”, ordena a voz.
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A felicidade ao seu alcance
É claro que querer dar o melhor de si é positivo, pois impulsiona você em direção às suas metas e aumenta as chances de conquistá-las. Mas aceitar apenas o máximo da vida vira armadilha quando, na ânsia de alcançar a perfeição e não dar brecha para críticas, paralisa a ação e torna os sonhos inatingíveis. Em outras palavras, o perfeccionismo, tão valorizado por algumas pessoas e em alguns ambientes, atravanca a vida. Se fosse só esse o prejuízo, já seria péssimo. Mas estudos mostram que sentimentos ruins detonados por autocrítica e cobrança demais ativam partes do cérebro responsáveis pelo pensamento racional e pela sensação de fracasso.
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Isso pode levar à atelofobia, desordem psíquica caracterizada pelo medo da imperfeição e que, de tão comum, foi até batizada pelos médicos. Quando você se impõe padrões altíssimos de excelência e não se permite errar, é como se esticasse uma mola além dos limites da sua resistência Até que ela arrebenta. “Esse comportamento gera ansiedade e depressão”, observa o psicoterapeuta Marco Antonio De Tommaso, consultor da BOA FORMA. “Ninguém é bom em tudo sempre. Muitas vezes, a busca pela perfeição é uma maneira de compensar sentimentos de inferioridade. Com medo de falhar, o perigo é desistir de arriscar novas conquistas e entrar na inércia.” Para ele, um erro bem conduzido não é fracasso. Ao contrário, pode ser ponto de partida para o sucesso.
Você também merece
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A psicóloga Kristin Neff atribui à sociedade competitiva de hoje a necessidade de perfeição. “Nela, não basta você se gostar pelo que é; é preciso ser melhor do que as outras pessoas. Isso estimula a epidemia de narcisismo que vivemos, o que resulta em insatisfação permanente.” Na busca ansiosa pela autoestima, é fácil apontar o dedo para si mesma se algo não sai como esperado. Resultado: culpa, frustração, tristeza. É exatamente diante dos imprevistos da vida que vale a pena praticar a autocompaixão, que nos ampara e mostra que não há nada de errado em apenas ser humana e… falhar.
Quando uma amiga vem chorar no seu ombro porque se deu mal nos testes para uma multinacional, qual é a sua reação? Fala que o inglês dela estava ruim mesmo e faltou se preparar? Ou tenta levantar a moral da amiga dizendo que novas oportunidades virão? A maioria escolhe a segunda opção e, generosamente, faz o que pode para aliviar a angústia de quem a gente gosta. Isso é compaixão, que acende a esperança de ir em frente apesar dos altos e baixos. Por que, então, não usar a mesma boa intenção com você mesma?
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Pegue mais leve
Se o céu é o limite das suas expectativas, adote as ideias seguintes para diminuir a ansiedade e aumentar o prazer de ser quem você é.
· Desencane de ser a número 1 em tudo. Trate-se com compreensão nos momentos em que se sentir por baixo e busque a lição escondida em cada fracasso. Rir dos próprios erros é outra atitude inteligente e que alivia a tensão.
· Perfeito mesmo é o corpo da Deborah Secco, o cabelo da Gisele, o namorado megacarinhoso da sua amiga? Nada disso. Pare de comparar seus “defeitos” com as qualidades alheias (e de se sentir inferior por isso) e aprenda a curtir os presentes que a vida lhe dá.
· Explore suas individualidades. Afinal, o melhor da sua identidade se revela por meio de traços (físicos e de personalidade) que muitas vezes você tenta esconder.
· Aceite que a vida alterna fases de crise e de realização. E que há coisas que você vai conquistar, mas outras talvez não. Isso ajuda a dar a volta por cima e não desanimar nos períodos difíceis.
· Exercite a compaixão em todas as áreas da vida. Ela conecta (em vez de isolar) você com as pessoas e contribui para torná-la menos implacável com as suas falhas e as dos outros.
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