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Amar, comer, comprar: quando o prazer vira problema

Na ficção e na vida real, mulheres exageradas no jeito de se apaixonar, se divertir e se cuidar sem saber colocam em perigo a autoestima e a felicidade. Aprenda a reconhecer os sinais de perigo e veja como é possível reverter a situação.

Por Redação M de Mulher
Atualizado em 22 out 2016, 16h45 - Publicado em 28 jul 2014, 22h00
Camila Gomes - Edição: MdeMulher
Camila Gomes - Edição: MdeMulher (/)
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Foto: Thinkstock

Descontar suas frustrações em compras – quanto mais séria a briga em casa ou o pepino no trabalho, maior é o estouro na fatura do cartão de crédito ou se desdobrar (e pagar vários micos) controlando cada passo da vida do namorado são comportamentos que têm consequências sérias. 
 
E eles se manifestam de diversas maneiras: comprar, comer, se exercitar, navegar na internet e até fazer sexo, quando vira compulsão, provoca um estrago emocional bem maior do que o alívio imediato que traz. São mais comuns do que a gente pensa, mas diferentes dos vícios no sentido clássico da palavra – uma viciada em compras, por exemplo, pode não ter crise de abstinência se não gastar, mas a vida sofre consequências tão devastadoras quanto às motivadas pelas drogas -, o que torna mais difícil reconhecer essa personalidade como problemática. 
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Fuga da realidade

Em excesso, até o que costuma fazer bem pode fazer mal. Malhar, transar e trabalhar, por exemplo. Quando perdem a função de divertir, dar prazer e expressar o que você tem de melhor e se tornam um meio de buscar autoafirmação ou fugir de alguma frustração, o mais certo é que essas atividades acabem provocando danos à saúde e um senhor prejuízo para a autoestima.
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Mas como saber se um hábito que para você é natural está ganhando tons de compulsão? Para Sérgio Wajman, psicoterapeuta e professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP), a resposta está no impacto que a tal atitude excessiva tem na vida da pessoa – por exemplo, se virou o centro de tudo para ela. “A compulsão implica que outras atividades ou interesses se tornem secundários ou sem importância”, fala. A jornalista Camila*, 32 anos, se reconhece aí. 
 
Bonita e vaidosa desde sempre, ela precisou de um chacoalhão de uma amiga para perceber que passar quatro horas por dia na academia, todo santo dia, desmarcar consulta no médico, reunião de trabalho e até encontro romântico para não perder um dia de treino não era normal. Sem falar no corpo, que estava ficando forte demais. “Me sentia tão bem depois de malhar que não imaginava que aquilo poderia me fazer mal”, conta. Assim como ela, alguém que abre mão do lazer e dos momentos com a família para ficar horas a mais no escritório; que troca programas com a turma, perde horas de sono e atrasa tarefas no trabalho para ficar navegando na internet; ou que transa com o maior número de caras que consegue sem controle nem necessariamente ligar para o envolvimento afetivo pode estar passando do limite. Ainda que nem imagine. 
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Compras, dívidas e cia.

A cultura em que a gente vive, consumista, imediatista, exibicionista, é um estímulo ao exagero, qualquer que seja ele. “É um incentivo para a dificuldade de controlar os desejos, adiar vontades, ficar sem alguma coisa que (pelo menos supostamente) vai trazer prazer”, diz Sérgio Wajman. O problema é que, no caso das compulsivas, essa satisfação dura pouco tempo. Para as compradoras, o endividamento não demora a bagunçar as relações familiares, afetivas e profissionais. Quem desconta as frustrações na comida não precisa terminar o prato para se arrepender do exagero nem tarda para desenvolver transtornos de alimentação como bulimia ou anorexia.
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A comissária de bordo paulistana Fernanda* que o diga. Entre sapatos, roupas e uma dívida imensa, a mania de comprar custou amizades e a confiança da família. Frequentadora de um grupo de apoio há quase dez anos, ela hoje entende os comportamentos que levaram à doença e aprendeu a separar emoções e dinheiro. Se está pensando em adiar para sempre a ida ao shopping, alto lá: comprar algo por impulso de vez em quando faz parte da nossa natureza. O consumo compulsivo, esse, sim, é um problema e afeta cerca de 5% da população mundial, a maioria mulheres. 
 

Meu bem, meu mal

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Sentir ciúme é natural, em algum grau e algum momento, e acomete todo mundo. O erro está em achar que ele soma sentimento ou acrescenta charme a um relacionamento. Para o psiquiatra Eduardo Ferreira-Santos, autor do livro Ciúme: o Medo da Perda (editora Claridade), o ­ciúme é o veneno e não o tempero de uma relação. Assim como uma dor, indica que algo está errado com a pessoa que o sente – nesse caso, geralmente insegurança ou medo de perder o objeto do amor. Exatamente como faz a passional Aída, de Salve Jorge, que demonstra o amor de forma desesperada, chega a seguir o namorado e xeretar o celular dele. Se Nunes, o objeto da paixão, reclama, ela rebate: “Te incomoda ser amado?!”. E ameaça: “Se você for embora, vou me matar!”. Eduardo Ferreira-Santos é categórico. “Saudável é o cuidado com o outro; o ciúme é negativo e egoísta, pois revela apenas a preocupação consigo mesma.”
 
A psicóloga Ana Márcia Mello Pereira, coordenadora do grupo de apoio Mulherespontocom, do Rio de Janeiro, explica que a obsessão amorosa é algo que domina a pessoa e costuma resultar em rompimentos desastrosos. Como foi o da última relação da carioca Stella*. O que começou com uma paixão de verão por um rapaz de outro estado virou um tormento na vida da fisioterapeuta. “Como morávamos longe um do outro, morria de medo de perdê-lo. Até que ele mudou para a minha cidade e a coisa saiu do controle”, conta. A marcação cerrada para saber tudo o que o rapaz fazia rendeu cenas públicas de ciúme, brigas sem fim, noites em claro e intervenção da família e dos amigos. Foi só depois que a relação acabou que Stella sacou que o problema era ela e procurou terapia. “Hoje vejo que idealizava e não enxergava defeitos no meu ex-namorado”, conta. “Minha insegurança me fazia imaginar que estava sendo traída o tempo inteiro”, lembra.
 
Segundo os especialistas, as compulsões não têm cura. O tratamento começa reconhecendo que você precisa de ajuda. Uma saída é procurar um grupo de apoio – existem vários, voltados para compulsões específicas e que reúnem pes-soas na mesma situação, o que contribui para enfrentar o problema. Mesmo sujeita a recaídas, é o start para retomar o comando da própria vida.
 
*Os nomes foram trocados para preservar a identidade das entrevistadas.
 

Operação detox

Com autoconhecimento e coragem para ver o problema e buscar ajuda, é possível se livrar de uma compulsão.
 
Admita o problema
É preciso se conhecer bem para perceber quando o hábito nocivo começa a comandar você, e não o contrário. Escutar os amigos e a família também é fundamental, já que a cegueira para a doença é um denominador comum em vários tipos de compulsão.
 
Entenda as causas
As causas do transtorno são várias: hereditariedade, personalidade, história de vida e até alterações nos neurotransmissores. Algumas pessoas têm um déficit de dopamina (substância que garante o bem-estar) e, quando experimentam determinadas situações de prazer, que elevam os níveis de dopamina no cérebro, podem acabar ficando viciadas, dependendo do seu estado emocional.
 
Fuja do perigo
Manter distância de lugares ou situação que desencadeia um episódio de compulsão é um jeito de evitar tentação. Mesmo que diga a si mesma que vai se segurar, é comum a pessoa simplesmente não conseguir controlar o acesso.
 
Busque ajuda
Se abrir sobre o problema com uma amiga, um parente, um grupo de apoio ou um psicólogo é determinante para escolher o melhor tratamento.
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