Dermatite atópica: como a doença pode impactar o emocional dos pacientes?
O problema afeta 7% da população adulta (acima de 12 anos) e entre 15% e 25% das crianças e adolescentes
De acordo com dados da Sociedade Brasileira de Dermatologia, a dermatite atópica acomete 7% da população adulta (acima de 12 anos) e entre 15% e 25% das crianças e adolescentes.
A doença é crônica, sistêmica e inflamatória da pele e apresenta lesões avermelhadas no rosto ou nas dobras do corpo.
O Dr. Wagner Galvão, dermatologista, especializado em dermatite atópica, psoríase e hidradenite supurativa, explica que a coceira desencadeada pela enfermidade pode prejudicar alguns aspectos da vida dos pacientes.
“A coceira exacerbada pode afetar a qualidade e a força de trabalho do paciente. Muitas vezes, a coceira impede o paciente de ter um sono reparador, por exemplo. E a aparência das lesões leva muitos a acreditarem que é uma doença infecciosa, sendo que não é”, diz ele.
CAUSA
A causa exata da dermatite atópica ainda não foi descoberta. Porém, a doença é desencadeada em razão de um desequilíbrio no sistema imunológico, resultando no desenvolvimento de um processo inflamatório que provoca lesões na pele.
O médico destaca que a genética pode estar envolvida entre as causas do problema. “Apesar das causas não serem totalmente conhecidas, é muito comum acharmos parentes com o mesmo problema ou com problemas parecidos, mostrando uma parte de causa genética”, pontua.
Alguns fatores, como mudança de tempo, tecidos de roupa, clima muito seco, alérgenos, poeira e estresse também podem desestabilizar o paciente e iniciar ou piorar a doença.
SINTOMAS
Além do surgimento das lesões vermelhas, que podem ser espessas ou ter secreção, o paciente apresenta coceira. “As lesões também podem ser dolorosas e causarem ardor, aumentando os problemas para o paciente”, informa o dermatologista.
“Em determinados casos, a coceira é tão forte que atrapalha o sono da pessoa, gerando impactos no humor e na capacidade de atenção”, acrescenta.
DIAGNÓSTICO
De acordo com o Dr. Wagner Galvão, o diagnóstico é feito com base em critérios clínicos, sendo que os exames laboratoriais também podem contribuir em algumas situações.
“Em determinados casos, o único papel de exames laboratoriais é afastar outros diagnósticos que podem se confundir com a dermatite atópica, como infecções e outras doenças inflamatórias. Muito eventualmente precisamos fazer biopsia de pele para contribuir no diagnóstico”, conta.
TRATAMENTO
A dermatite atópica é crônica, o que significa que não tem cura. Porém, ela pode ser controlada. O tratamento da doença depende da gravidade, segundo o médico.
“O tratamento depende da gravidade e pode ser dividido em medidas gerais – como o uso de roupas adequadas e evitar potenciais gatilhos – e cuidados com a pele, por exemplo, evitar banhos muito quentes, utilizar tratamentos tópicos (hidratantes, cremes e pomadas, a serem individualizados) e tratamentos sistêmicos com medicações orais ou injetáveis”, esclarece.
Em casos mais graves, os tratamentos tópicos podem ser insuficientes. “Existem também medidas específicas para crises, não podendo deixar de lado a perspectiva de longo prazo do problema. Casos moderados a graves podem demandar terapias mais avançadas, já disponíveis pelo SUS e planos de saúde”, fala.
No Brasil, já estão disponíveis novas terapias, como o upadacitinibe, medicamento que recentemente foi aprovado pela Anvisa para tratar a dermatite atópica moderada a grave em indivíduos acima de 12 anos elegíveis a terapia sistêmica.
COMPLICAÇÕES
Sem o tratamento adequado, podem surgir infecções dermatológicas bacterianas, virais ou fúngicas nos pacientes afetados pela dermatite atópica.
“A progressão da doença e as implicações da dermatite tópica não tratada adequadamente podem ter enormes impactos”, conta o Dr. Wagner Galvão.
IMPACTO EMOCIONAL
A coceira frequente e intensa pode causar problemas para dormir, além de causar outros problemas para a saúde mental, como o desenvolvimento de quadros de ansiedade e depressão.
Em um estudo internacional, 38% dos pacientes relataram que a dermatite atópica impactou sua decisão de não estudar ou buscar um trabalho. “Frequentemente, a coceira gera um comportamento que socialmente também é um problema. Os dias de trabalho e estudos perdidos por afastamento vão minando a capacidade produtiva do paciente”, destaca o dermatologista.
O médico ainda conta que alguns pacientes tentam manter escondidas as lesões de pele decorrentes da doença, o que não é indicado.
PRECONCEITO
Uma pesquisa do Instituto Datafolha, encomendada pela AbbVie, pontuou que três em cada 10 brasileiros acreditam erroneameamente que a dermatite atópica é infecciosa.
Além disso, 47% dos entrevistados acreditam que a doença é causada por falta de higiene e 37% dizem que pessoas diagnosticadas com o problema não devem sair de casa.
Diante disso, fica visível a importância de disseminar informações corretas sobre a doença, uma vez que isso contribui para reduzir o estigma e o preconceito sofrido pelos pacientes. Então, é fundamental ressaltar que a doença não é contagiosa.