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Investigamos a Dieta do HCG: tão milagrosa quanto perigosa

Tem muita gente perdendo até 15 quilos em um mês com uma prática que foi moda nos anos 1970 e agora voltou com tudo. Por isso BF decidiu examinar a Dieta do hCG, tão milagrosa quanto perigosa

Por Julia Moreira
Atualizado em 27 out 2016, 20h04 - Publicado em 20 jul 2016, 13h54
Comstock Images / Thinkstock / Getty Images
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Quando o assunto é perda de peso duradoura, não existe milagre. Você cansou de escutar isso aqui em BOA FORMA. Mas foi só o ex-BBB Rodrigo Carvalho postar nas redes sociais fotos impressionantes de antes e depois de sua mulher, Thais Machado, que a internet veio abaixo no fim do ano passado: 10 quilos a menos em apenas 20 dias! De lá para cá, famosas e anônimas passaram a aderir à prática capaz de eliminar quilos extras em tempo recorde. A Dieta do hCG, hit nos anos 1970, voltou com força total. Não é à toa: de todos os programas de emagrecimento express, ela se supera ao prometer não só enxugar peso mas também atacar justamente as gordurinhas localizadas, que insistem em grudar nos culotes ou que formam aquela bananinha bem abaixo do bumbum. Parece perfeito, mas a maioria dos especialistas condena a prática. Vem saber por quê.

Esmola calórica
Funciona assim: só vale consumir 500 (!) calorias por dia e, para aguentar o tranco – forte, vamos combinar –, é preciso injetar diariamente um hormônio, o gonadotrofina coriônica humana (ou hCG, na sigla em  inglês), que também pode ser manipulado na forma de pílula de uso sublingual. Produzido naturalmente durante a gravidez, ele mobiliza as reservas de gordura da mãe para alimentar o bebê. O objetivo: o hormônio simular uma gestação durante a dieta e, assim, obrigar o organismo a buscar energia até nos lugares mais difíceis, onde se esconde a gordura localizada. Nesse período, com duração de 23 a 42 dias, os exercícios (até os mais leves) ficam suspensos – o que parece sensato, não? Malhar e comer tão pouco é no mínimo loucura! O resultado aparece logo: 15 quilos despachados depois de um mês longe da academia. Opa, quem não quer ver aqueles pneuzinhos resistentes sumirem em poucos dias sem nem levantar um halter? Calma, porque o preço é alto.

Marcha lenta
Sente o drama: se dividir 500 calorias entre o café da manhã, o almoço, o lanche da tarde e o jantar, você tem o direito de consumir apenas 125 calorias em cada uma dessas refeições. É muito pouco! O objetivo: reduzir ao máximo o açúcar como fonte de energia. Assim, o organismo recorre à gordura estocada e acaba com as dobrinhas. Mas, junto, você perde músculos. Tem mais: sem glicose, principal combustível do cérebro, o raciocínio fica lento – prejudica seu desempenho no trabalho, sua atenção nas conversas com os amigos… “O processo causa alterações no sistema nervoso central, o que leva a sonolência, indisposição, mau humor e confusão mental”, afirma o endocrinologista Paulo
Rosenbaum, do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. Outros efeitos colaterais: queda da pressão arterial, mudanças nos ciclos menstruais, irritação e intestino preso.

Hormônio milagroso
O hCG entra em cena para reduzir os contratempos. “Como ele leva as células a procurar energia estocada fora dos músculos, o corpo não sofre. Além disso, ao fazer uma bioimpedância (teste que avalia a composição corporal), percebe-se só a redução de gordura”, afirma o nutrólogo carioca Bruno Menezes, que atende celebridades dispostas a seguir a dieta (ele próprio testou o programa por três vezes). Mas não existe comprovação científica desse poder do hormônio. Por isso, a maioria dos entrevistados acredita que a perda rápida de peso é resultado do menu espartano, e ponto final. “Qualquer pessoa submetida a um cardápio magérrimo e cheio de restrições (até os carboidratos das frutas ficam proibidos) emagrece rapidamente, mas corre o risco de fraqueza e anemia, pois deixa de ingerir a dose mínima de nutrientes necessária para manter o organismo saudável”, diz o endocrinologista Alexandre Hohl, presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem).

Saúde em primeiro lugar
O mais preocupante: o hCG aumenta o risco de tromboembolismo (a formação de coágulos de sangue capazes de bloquear veias e artérias), especialmente em pessoas obesas (com o índice de massa corporal acima de 30), além do perigo de AVC (acidente vascular cerebral) e infarto. “As doses indicadas para a perda de peso são pequenas. Portanto a possibilidade de efeitos colaterais, com supervisão médica, são mínimas”, defende Bruno Menezes. Mas a maioria dos especialistas prefere não arriscar. “Já atendi pacientes que fizeram esse regime e chegaram ao consultório com várias queixas – de fraqueza a humor péssimo”, diz a nutricionista funcional Andrezza Botelho, de São Paulo. Quem consegue ir até o fim da dieta geralmente volta a engordar depois, e rapidamente. No período de restrição, o organismo entra no modo de economia de energia e, quando você retoma o cardápio normal, ele continua queimando pouco combustível. Por isso a facilidade de recuperar – e ultrapassar – o peso inicial. Se é verdade que a dieta consome músculos, o cenário piora, pois a massa magra é conhecida como devoradora de calorias.

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Tá tranquilo. Mas tá favorável?
O hCG é aprovado apenas para tratar infertilidade feminina e masculina e deficiências hormonais em homens e crianças. O uso para emagrecer é feito fora das indicações da bula, prática conhecida como off label – o hormônio não é proibido, mas requer que o médico saiba muito bem o que está fazendo. Então fica o alerta: nem todo mundo pode se submeter a ele. Obesos, pessoas com problemas cardiovasculares, hipertensão ou disfunção renal e mulheres com cisto no ovário tendem a sofrer mais efeitos colaterais. “Qualquer tratamento traz riscos e é preciso uma análise cuidadosa do quadro de saúde do paciente e das contraindicações. Não dá para banalizar o processo, muito menos aderir ao medicamento por conta própria”, alerta Bruno Menezes. Pelo menos agora, quando vir um milagre fitness na internet, você já sabe: deve ponderar se a perda meteórica de gordura é tão fácil quanto parece.

PROMESSAS E ENTREGAS 
A promessa: derreter até 15 quilos em um mês.
A entrega: qualquer dieta de 500 calorias por dia proporciona essa perda de peso.

A promessa: o hormônio tira a fome.
A entrega: não existe comprovação científica de que o hCG age na percepção da saciedade. Muitas pessoas abandonam a dieta no meio do caminho porque ficam famintas. 

A promessa: o uso do hCG é totalmente seguro.
A entrega: todo medicamento traz riscos. Os perigos do hormônio sintético, descritos na bula, são aumento do risco de tromboembolismo, infarto, embolia pulmonar e AVC.

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A promessa: queima gordura localizada. 
A entrega: não há evidências científicas de que o hCG usado na dieta mobilize estoques de gordura em regiões determinadas, como o culote, o abdômen e abaixo do bumbum.

A promessa: preserva os músculos. 
A entrega: apesar de alguns médicos terem relatado bons resultados na medição da composição corporal, não existe comprovação de que o hormônio evita a queima de massa magra.

A promessa: acelera muito a perda de peso.
A entrega: o hCG não muda a velocidade da queima de gordura. 

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