A expressão “magra de ruim“ nunca esteve tão por fora e errada como agora. Isso porque cientistas descobriram que pessoas com dificuldade para engordar carregam uma alteração genética que silencia o apetite — e de quebra ainda diminui as chances do aparecimento de doenças cardíacas ou diabetes. O estudo, divulgado em 2019, é da Universidade de Medicina de Cambridge, na Inglaterra, e baseou-se nos DNAs de pessoas cadastradas no Reino Unido Biobank, um banco de dados genéticos que armazena informações de mais de meio milhão de pessoas, com idades que variam entre 40 e 69 anos.
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A pesquisa foi inspirada por outra descoberta científica, de autoria do pesquisador e professor de Cambridge Sadaf Farooqi. De acordo com o estudo, um outro gene, o MC4R, possui mutações nas pessoas com maiores tendências a serem obesas. E pelo motivo contrário das magras em excesso: a deformação no gene não permite que o cérebro entenda a saciedade, deixando aquela sensação de fome mesmo depois de comer.
Tudo bem, já sabemos que a hereditariedade pode sim influenciar no processo de perda dos quilinhos a mais. Mas será que existem outros empecilhos que dificultam o emagrecimento — e que não estão relacionados somente com a alimentação? Conversamos com três especialistas para descobrir:
Motivos que podem estar boicotando sua dieta
1. Hormônios desregulados
Sim, as substâncias químicas fabricadas pelo nosso corpo têm relação direta com a balança, e precisam estar reguladinhas no organismo para a dieta fazer efeito. “Os hormônios precisam ser equilibrados, desde os produzidos pelo ovário até os fabricados pelo pâncreas“, explica a médica endocrinologista Maria Fernanda Barca, de São Paulo. “Os principais para o emagrecimento são a insulina, o glucagon, a testosterona, o estrogênio, a prolactina, o cortisol e o hormônio do crescimento“, acrescenta.
A testosterona e o estrogênio, sintetizados pelos ovários, são os grandes aliados da vez. “Eles são importantes para a aceleração do metabolismo e na síntese proteica (formação de massa muscular)“. diz o médico endocrinologista Guilherme Renke, sócio da Clínica Nutrindo Ideias, em São Paulo e no Rio. E já sabe: mais músculos, mais queima de calorias!
Outro importante amigo da redução do ponteiro da balança é o GH, ou hormônio do crescimento. Quando bem equilibrado no organismo, promove o crescimento muscular e consequentemente uma maior queima calórica em adultos. Contudo, um grupo de pesquisadores da Universidade de São Paulo descobriu que ele também atua no cérebro para conservar energia durante a perda de peso. Então, quando em quantidades muito altas, pode atrapalhar o processo de redução de medidas.
Por último, mas não menos importante, é a T3, substância fabricada pela tireoide. “O hormônio da tireoide auxilia a queima calórica. Quando em falta no organismo (o chamado hipotireoidismo), o metabolismo fica mais lento“, explica Maria Fernanda Barca.
2. Resistência à insulina (diabetes, pré-diabetes ou síndrome metabólica)
Apesar de também ser um hormônio, a insulina pede um tópico próprio devido aos conhecidos problemas que a sua falta no organismo — ou mesmo desregulação — pode causar. “A insulina é um hormônio anabólico, ou seja, um hormônio que provoca o aumento de peso. Quando consumimos muito carboidrato de uma vez, sem consumir gorduras, fibras e proteínas ao mesmo tempo, o nosso corpo sofre uma elevação muito abrupta da glicemia. E isso faz com que grandes quantidades de insulina sejam liberadas, aumentando ainda mais o ganho dos quilos“, diz a nutricionista Maria Clara Pinheiro, do Rio de Janeiro.
3. Estresse e dormir mal
Não adianta. Uma rotina estressante e noites mal dormidas aumentam o cortisol, substância que provoca o aumento do apetite. “Ele tem o efeito contrário da insulina, que “joga“ a glicose dentro das células para gerar saciedade“,explica Guilherme Renke.
Além de ocorrer uma diminuição da ação do hormônio do crescimento, que trabalha melhor quando descansamos. “O GH é liberado durante a madrugada, quando a pessoa está em sono profundo. Se na última refeição antes de dormir, oferecermos uma boa quantidade de proteína, teremos um maior aproveitamento dos benefícios dele“, afirma Maria Clara Pinheiros.
4. Intestino desregulado
Estudos já comprovaram que a microbiota (conjunto de microorganismos que vivem no intestino) dos seres humanos afeta tanto o sistema imunológico quanto nossa função cerebral e também no nosso peso. “Hoje em dia já sabemos que a microbiota da pessoa acima do peso é diferente da microbiota da pessoa magra“, diz Maria Clara Pinheiros.
Portanto, as mulheres que possuem algum tipo de alteração no sistema digestivo pode sim ter dificuldades para emagrecer. Mas como ter uma microbiota saudável? “Ela sofre interferência genética e de fatores ambientais, como o estilo de vida, alimentação e exercícios que praticamos“, diz a nutricionista.
É importante, então, melhorar o padrão alimentar, consumir mais fibras e evitar o consumo de alimentos processados e industrializados, ricos em carboidratos e gorduras.