O treinamento 3Dimensional – Parte 1
Hey, folks! Já estou escrevendo aqui há quase 1 ano e creio que já podemos dar um passo mais profundo no entendimento do treinamento 3Dimensional. Então, ao longo das próximas colunas vou destrinchar com mais profundidade a essência e os princípios que norteiam nossos estudos e nosso processo de pensamento. Isso é de suma importância, porque quando vamos estudar ou trabalhar com algo sempre queremos melhorar, aperfeiçoar e entender melhor sobre o que estamos fazendo. Para isso, precisamos entender as premissas que estão por trás do que fazemos.
Até porque, para dar o próximo passo em progressão, não basta saber onde estamos, mas também de onde viemos e o que nos orienta durante a jornada. Com o treinamento 3Dimensional isso é bem claro. Aliás, não é muito comum entre os métodos de treinamento a clareza do que o suporta. Mas, na 3dimensionalidade essa clareza é o nosso maior valor. É o que realmente nos importa e por isso retomamos aos valores e princípios o tempo todo. E é a partir daqui que pretendo começar essa série.
Quero enfatizar algo ultra relevante. Eu não sei nada. Tenho certeza de que estou muito longe da verdade, apesar de buscá-la incessantemente. Inclusive, aqui já começa um dos nossos valores, a busca pela verdade que sabemos que nunca atingiremos, já que não possuímos recursos para tal. Dentro da nossa insignificância perto do todo não nos é possível acessar a verdade absoluta. Mas, isso não nos faz desistir de caminhar. O grande Marcelo Gleiser, em seu livro “A ilha do conhecimento”, aponta para o fato de quanto mais aprendemos sobre algo, mais também aprendemos que não sabemos de muitos outros “algos”. E essa relação é sempre desvantajosa para nós. Sempre vou aprender mais que não sei, do que saber algo. Uma visão atualizada do “só sei que nada sei”, do Sócrates. Quase que buscar a verdade seja uma utopia. Porém, mesmo assim ela é um dos nossos maiores objetivos.
Bom, voltando ao tema, eu não sei se o que estou falando aqui e em todas as vezes que me presto a ensinar algo, é uma verdade. O que posso dizer é que o que vou falar é o melhor que consegui entender até o momento. E digo mais, até espero que eu tenha vergonha do que vou escrever hoje, daqui uns 5 anos. E se eu não tiver vergonha, não quer dizer que eu já sabia de tudo hoje. Muito mais provável que eu parei no tempo. Não aprendi mais nada, ao passo que se eu tiver vergonha significa que caminhei, que aprendi mais, até porque, hoje tenho muito orgulho do que falo.
Então, vamos lá:
Entre os princípios que nos amparam nessa caminhada 3D está a relação corpo, mente e espírito. Todos os nossos estudos estão voltados a esse ser complexo. Essa relação é indissociável. Não há corpo sem mente e espírito. Logo, não trabalho com corpos, mas com seres complexos, nos quais qualquer uma dessas partes afeta é afetada pelas outras. Aqui temos o principal valor do treinamento 3D. Quando pensamos em treinamento físico não o dissociamos de mente e espírito.
Lembro-me da faculdade e dos métodos tradicionais, nos quais, além desses elementos não serem levados em conta, ainda são mais segmentados, como bíceps, ombro, glúteo. Quer entender a diferença? Na época de faculdade em que eu estudava anatomia, fazia isso em um laboratório onde corpos de cadáveres indigentes serviam de modelo de estudo. Ali, em cima daquela bancada fria, estava um corpo sem mente e espírito. Definitivamente é muito diferente do que toca a campainha em meu estúdio pedindo ajuda para aliviar as dores das costas. É com isso em mente que estudamos o ser humano.
Até aqui é possível que você esteja me acompanhando e filosoficamente entendendo meu raciocínio, contudo quero dissecar de uma forma mais prática e concreta o que é esse ser complexo. Vamos começar pelo corpo. A matéria, o físico. O mais fácil de entender. A parte que a gente vê. O tronco, a cabeça, a mão, o cérebro. Sim, o cérebro enquanto matéria pertence ao corpo físico, mas quando ele cria uma estratégia para você atravessar uma rua sem que um carro te atropele, esse produto já é a parte da mente. Você agora está usando seus olhos para ler o que escrevo (ou os dedos ou audição para nossos amigos com deficiência visual), entretanto quando você processa o que escrevo, estamos falando de mente. E quando isso te emociona ou te estressa, ou qualquer emoção que isso te desperte, estamos falando de “espírito”. E essa parte do espírito que compõe o 3D é um pouco mais complexa ainda. Ela está relacionada a todas as nossas emoções e sensações e também ao transcendental.
Sim, o treinamento 3D está sempre aberto a todas as possibilidades. Talvez um bom caminho para facilitar seria chamá-lo de treinamento 5Dimensional. Corpo (matéria), mente (a parte racional e analítica), sensorial (percepções como o frio ou fome), emocional (relacionado às nossas emoções como tristeza, felicidade) e espírito (a parte transcendental, nossas crenças e todo o desconhecido que nem arriscamos descrever de tão distante que está de nós ou por completo desconhecimento mesmo). Hmmm, pensando bem não facilitou muito. Então vamos de 3D mesmo. Corpo (o físico), mente (nossa parte racional) e espírito (tudo que não se encaixar nas duas definições anteriores).
Como sabemos, essas partes todas se inter-relacionam, então podemos acessá-las por diversos caminhos e o treinamento 3Dimensional escolheu acessar esse ser complexo pelo corpo. E para entendê-lo através do corpo, precisamos saber onde esse ser vive. No caso, no universo, mais especificamente no planeta Terra. E como esse corpo interage com o universo? Através do movimento. Então o movimento é a forma como o ser humano experimenta o universo e a vida do ponto de vista físico. Esse é o elemento básico. O nosso ponto de partida. Logo, para eu atender qualquer pessoa que me procure, parto dessa relação. E se esse é o nosso elemento básico, todo meu estudo parte deles. Tenho que ser expert em ser humano, universo e movimento. Não sobre peito ou bunda, agachamento ou supino. O ponto de partida nasce aqui e é aqui onde aprofundo meu olhar e tento entender cada vez mais. Ser humano é um universo complexo e infinito em si que vive e interage em um universo também complexo e infinito. Esse é o ponto de partida e a partir daqui preciso me debruçar sobre ambos. Vou começar pelo mundo que vivemos.
Quando aprofundamos nosso olhar vemos o mundo do jeito que ele é ou do jeito que nos é permitido interpretar sobre ele. Ele é o que é. Meu entendimento sobre ele vai sempre se alterar. Mas, ele é o que ele é. Um mundo que tem suas regras com as quais nosso ser interage o tempo todo e não pode modificá-las. O nosso movimento também está sujeito a essas regras deste universo. Regras essas que se equilibram e se harmonizam o tempo todo. Ao olhar para essa harmonia do mundo, uma coisa salta aos olhos. O universo é composto de forças antagônicas que coexistem simultaneamente e se harmonizam entre si. Já abordei sobre isso aqui.
O fato curioso é que no nosso imaginário o mundo é binário. Ou uma coisa ou outra. Ou está claro ou escuro. Ou é branco ou é preto. Ou sou feliz ou triste. Porém, o fato é que essa interpretação não corresponde ao universo como ele é. Nele, para haver luz é necessário existir sombra. E uma não existiria sem a outra. Para entender a tristeza, precisamos da alegria. Para entender o amor, precisa existir o ódio. E até um simples vento pode deixar alguém chateado porque bagunçou o cabelo na saída do cabelereiro e esse mesmo vento fazer a alegria do garoto que empinava pipa. Esse vento foi ao mesmo tempo ruim e bom, como se isso fosse possível. E é. Essa é a forma do mundo. Isso posto, sempre entendo o mundo e por consequência o ser humano, em relação e não de forma absoluta. Com coexistência e não com “excludência”. Ninguém é bom ou mau, mas ambos.
Essa natureza do universo está representada em tudo que nele existe. Uma pedra, por exemplo. Ela está parada ou se movendo? Em uma primeira vista ela está parada. Mas, ao nos aproximarmos até o nível atômico dela, veremos um movimento frenético desses átomos. E quanto mais solido é algo, mais frenético são os movimentos atômicos. Podemos dizer que essa rocha, o Pão de Açúcar, por exemplo, está ao mesmo tempo estático e em movimento. Sendo que sempre acreditamos que ou estamos parados ou em movimento, mas o fato é que acontece os dois. E ao mesmo tempo.
Wow, que complicado! Sim, isso é muito complicado mesmo. Estamos falando de algo que não temos nem recursos para entender. E isso não implica em não podermos trabalhar com isso. Eu não entendo nada de como funciona o celular, porém posso enviar mensagens, ver aplicativos e, pasme, fazer ligações mesmo que eu não saiba como isso ocorre. É possível sim, através dos recursos que temos, criar estratégias para atingir resultados, mas sempre levando em consideração essa complexidade. Já que, se não fizermos assim, corremos o risco de treinar pessoas separando alguns grupos musculares e mandando 3 séries de 10. Definitivamente, dada toda essa complexidade que apenas comecei a citar aqui, um modelo simplista dessa forma não poderá entregar bons resultados funcionais, né?
Esse é o nosso pontapé inicial nessa jornada de entendimento 3D. Você vai ver o movimento ser abordado de uma forma como você nunca viu. E você nunca mais vai querer ser treinado de uma maneira diferente. Aqui inicia-se nossa jornada que busca saber tudo partindo de uma premissa principal. Isso não será possível. Olha aqui mais uma daquelas ideias antagônicas que coexistem. E você pode até me perguntar: “Mas por que eu vou me dedicar a algo que eu sei que não vou chegar ao fim?” Poderia te responder de várias formas. Talvez seja até ingenuidade nossa pensar que temos controle das coisas e que chegaremos a algum fim, mas prefiro responder com uma parábola.
Uma vez, um aprendiz chegou para um ancião muito sábio e perguntou: “Mestre, o que é uma utopia?” E ele respondeu: “Utopia é algo que você nunca pode alcançar. Você dá um passo na direção dela e ela se afasta um passo. Aí, você dá dois passos e ela se afasta mais dois. E não importa quantos passos você der, ela sempre vai se afastar na mesma proporção”. O aprendiz refletiu e fez mais uma pergunta: “Então, para que serve essa utopia?”. O sábio respondeu: “Para nos fazer caminhar”. Boa jornada 3D a todos!
Forte abraço,
Samorai