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Espiritualidade prática, com Debora Pivotto

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Milton Nascimento e as lições da maturidade

Por Debora Pivotto
Atualizado em 26 out 2022, 18h10 - Publicado em 28 set 2022, 11h00
Milton Nascimento durante show de turnê de despedida
 (Marcos Hermes/Instagram/Reprodução)
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Há alguns dias, eu e meu marido usamos o nosso primeiro “vale-night” para ver o show do Milton Nascimento em São Paulo. Não saíamos sozinhos desde que o Vicente nasceu, em dezembro do ano passado. E só essa experiência de passear sem nosso bebê já foi emocionalmente intenso. Estava super preocupada/angustiada mas, ao mesmo tempo, super feliz por poder sair de “casalzinho” depois de tanto tempo, e para ver um dos meus artistas preferidos possivelmente pela última vez, já que Milton Nascimento está se despedindo dos palcos.

E o show foi incrível! Fiquei super emocionada diversas vezes ao longo da noite por motivos que vão além de ouvir músicas que sempre me tocaram muito. A postura do cantor me encantou: ele estava tão seguro de si e tão frágil ao mesmo tempo. Parecia se revelar de uma forma muito verdadeira enquanto revisitava clássicos de toda a sua carreira e contava algumas histórias.

Milton Nascimento está com 79 anos e faz uma apresentação que cuidadosamente se encaixa com suas condições físicas. Ele fala de forma pausada e fica sentado durante todo o show. Mas não economiza na emoção e na dedicação na hora de cantar clássicos como “Travessia”, “Maria, Maria” e “Caçador de Mim”, que apesar de eu já ter ouvido centenas de vezes, me pegaram de uma forma nova, diferente.

Não é fácil para ninguém envelhecer. Mas imagina o desafio que é para um artista que tem a sua fisionomia e sua voz da juventude gravadas na memória de milhares de pessoas se permitir subir ao palco e se mostrar como é hoje, como toda a sua beleza e suas limitações? Achei isso de uma coragem tão bonita!

E saí do show refletindo muito sobre o poder da maturidade. Não é ser saudosista com a pessoa que já fomos, mas sim poder sentir gratidão por tudo o que fizemos, usufruir das conquistas e estar seguro e confortável com a pessoa que nos tornamos ao longo do tempo. Não é simples, mas é possível. E o sorriso, a alegria e a amorosidade do Milton no palco indicam que ele trilhou um lindo caminho nesta jornada do tempo. Ele parece saber muito bem o lugar que ocupa na história da música brasileira.

O Milton que vi cantar nesta última turnê não tinha uma voz tecnicamente impecável, mas sua expressão era de uma força imensa. Ele soube adaptar o tom das músicas para a sua capacidade atual e deu espaço para jovens artistas brilharem sem qualquer medo de ser ofuscado. E, principalmente, ele abriu o coração, mostrou sua arte e se mostrou vulnerável para uma plateia imensa. E o que é ser artista se não ter a coragem de se mostrar de corpo e alma diante do público?

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