Espiritualidade prática, com Debora Pivotto

Espiritualidade e autoconhecimento conectados com a nossa saúde física e mental, com o coletivo e com a vida prática
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Conheça ferramentas para lidar com o medo

Nem sempre seguir em frente com medo mesmo é a melhor solução. Silenciar e se permitir sentir medo podem ajudar mais.

Por Debora Pivotto
Atualizado em 14 jul 2021, 20h59 - Publicado em 28 abr 2021, 20h25

 “Vai. E se der medo, vai com medo mesmo”.

Não sei vocês, mas eu já perdi a conta de quantas vezes vi essa frase motivacional na timeline das minhas redes sociais. E confesso que ela me irrita um tanto. Não que eu não ache importante encarar nossos medos e seguir nossos planos mesmo quando ele se manifesta, mas eu acho que as pessoas às vezes dão uma glamourizada na forma de lidar com este sentimento.

Medo é coisa séria, minha gente! E ele se manifesta de diferentes formas em cada pessoa e em intensidades variadas.

Quando manifestado de forma leve ou moderada, você até consegue levar sua vida adiante apesar dele, mas tem horas que o medo é tão forte que ele te trava e você não vai querer ir pra lugar nenhum! E quando chega nesse ponto, eu sinto que, melhor do que insistir e tentar seguir em frente, tudo o que precisamos é parar, sentir e escutar o nosso medo, ouvir o que ele tem pra nos dizer, fazer acordos com ele.

Por ser terapeuta e por já ter tido diversas crises de ansiedade ao longo da minha vida, fui experimentando, aprendendo e desenvolvendo ao longo do tempo algumas técnicas para lidar com este sentimento. São práticas simples que me ajudam muito a acolher e aliviar a sensação causada pelo medo em seus diferentes estágios. Compartilho algumas delas neste texto e espero que elas possam ser úteis pra você também!

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Nivel 1 – Medo estilo “frio na barriga”

Este primeiro estágio é aquele medo que geralmente aparece quando estamos prestes a realizar algo que queremos muito. Ele gera no corpo físico um desconforto leve, tipo um frio na barriga, e na mente, geralmente aparecem algumas dúvidas. Por exemplo: “será que estou preparada para fazer isso?”, “será que isso vai dar certo?” ou “será que vão gostar?”. O medo existe, abala um pouco sua confiança, te faz duvidar, mas não é forte o suficiente para tirar sua vontade de realizar aquilo que você se propôs. É uma sensação esquisita mas perfeitamente administrável.

Neste estágio, faz sentido sim você bancar o coach interior, reforçar teu lado mais confiante, falar “vou com medo mesmo” e seguir adiante! É o momento de ativar a coragem – palavra que, aliás, não tem nada a ver com ausência de medo e sim com agir com o coração e seguir apesar do medo que vem da mente.

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Nível 2 – a tensão está no ar

Quando o medo avança pro nível médio, a situação começa a complicar um pouco. O desconforto físico ganha força e gera tensão nos músculos dos ombros e pescoço, você franze a testa. Na cabeça, os pensamentos começam a ficar mais acelerados e um pouco confusos, e internamente, começam a chegar receber uns sinais de alerta, como se algo meio perigoso pudesse acontecer a qualquer momento. Este estágio é bem comum quando estamos nos preparando para fazer algo que nos deixa um pouco inseguros ou que envolve algum tipo de exposição.

Neste estágio de tensão, frases motivacionais já não vão adiantar. O que mais funciona pra mim nessas horas é ter um pouco de paciência e ouvir o que esse medo está tentando me mostrar. Geralmente eu faço isso com a ajuda da meditação. Ou seja, eu me recolho num canto, sento numa posição confortável, fecho meus olhos, faço algumas respirações profundas e vou perguntando internamente por que estou me sentindo daquela maneira. Conseguir localizar o que exatamente nos causa desconforto naquela situação pode ajudar muito a trazer alívio e até nos ajudar a pensar em possíveis soluções. Por exemplo, se a situação geradora de angústia é uma reunião de trabalho em que você terá que apresentar algo para seus superiores e, ao silenciar, você percebe que aquela agitação toda é porque você acha que não vão gostar do material que você preparou, você pode ensaiar um pouco mais em casa, revisar para ver se algo pode ser melhorado, pedir opinião para alguns colegas. Enfim, mesmo que ainda haja alguma tensão, você pode sair de um estado de confusão mental e direcionar a sua energia para algum tipo de ação. Mas isso só é possível se a gente silenciar e compreender o que está por trás daquela tensão.

Nível 3 – medo intenso

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Neste terceiro estágio, que eu chamo de medo intenso ou profundo, a situação é complexa. É um momento em que o desconforto físico é pleno – além da tensão dos ombros e pescoço, pode haver também dor de cabeça, aquela sensação de suar frio e um nó no estômago. A respiração também fica alterada, mais acelerada. E, além de todo esse desconforto físico, na cabeça começa a vir uma avalanche de pensamentos super pessimistas. Você não tem dúvidas como nível 1, mas sim a certeza de que absolutamente tudo vai dar errado ou de que algo terrível vai te acontecer! Fica quase impossível dormir porque a agitação interna é muito grande e, ao fechar os olhos, geralmente só visualizamos pequenas catástrofes acontecendo.

Este estágio é bem comum quando estamos prestes a enfrentar uma situação que nos remete a algum trauma da infância ou que nos causa uma insegurança profunda – como uma mudança de emprego ou o fim de um relacionamento, por exemplo.

Nesse estágio, por mais difícil que pareça, vale a pena tentar respirar o mais profundo que você conseguir e fazer uma prática de observar todos os pensamentos e devaneios que passam pela sua mente sem se apegar a eles. É treinar o que chamamos na meditação de observador interno. Ou seja, você não vai ignorar esses pensamentos, mas vai observá-los e deixá-los passar – como nuvens negras que passam pelo céu num dia chuvoso. E você foca toda a sua atenção na sua respiração. Ao fazer isso, a gente consegue, aos poucos, ir diminuindo a força dessas vozes internas. E ao diminuir o ritmo da nossa respiração, o desconforto físico também vai aos poucos aliviando.

Nível 4 – pane no sistema

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Este último estágio é quando você não só perdeu o controle sobre o medo, mas você é totalmente controlada por ele. É a também chamada crise de ansiedade – afinal a ansiedade e o medo são sentimentos muito conectados. Os sintomas variam muito, mas para mim eles sempre vêm com um desconforto físico bem intenso. Sinto muita taquicardia, a respiração também fica bastante alterada e o corpo fica todo enrijecido.

A sensação de perigo é gigante e completamente sem sentido. Você pode estar deitada na sua cama com a porta fechada, mas a sensação no corpo físico e emocional é que você tá numa selva cheia de leões famintos olhando pra você. Já tive momentos em que fui acordada por essa sensação de pânico. O coração, além de muito acelerado, fica apertado, chega a doer. É horrível!

Diferentemente dos outros estágios de medo, a relação de causa e efeito nesta crises não é tão simples. Você nem sabe o que exatamente motivou todo aquele pânico porque essas crises muitas vezes foram causadas não por um evento único mas por uma série de situações de medo e angústia que foram mal elaboradas e que, em algum momento, chegam com tudo no nosso corpo emocional, físico e energético. Tipo um tsunami mesmo.

Nessas horas, não adianta tentar entender nem dialogar. Quando o medo chega nesse estágio, entro num modo de sobrevivência e só consigo fazer duas coisas: respirar e acolher. Então, essa é a minha recomendação. Acolha e respeite o que você está sentindo. Permita-se sentir! Por mais difícil e desconfortável que possa parecer, deixe esse medo se manifestar no seu corpo! Sustente essa tensão por alguns minutos e foque a atenção na sua respiração. Tente dar um ritmo a ela, mesmo que, no início seja bem acelerado, a tendência é que o movimento vá diminuindo aos poucos.

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Geralmente, depois de alguns minutos nesse acolhimento e prática de respiração consciente, me vem alguma reação meio catártica, que pode ser um choro ou um tremor, que é seguido de um alívio e início de relaxamento do corpo. É como uma onda mesmo que tem o seu pico e depois começa a entrar em declínio.

Percebem como este é um assunto complexo? Então, quando se perceber com um medo latente aí dentro de você, não ignore e nem se force a seguir em frente de qualquer maneira. Respire um pouco, se acolha e perceba qual o tamanho do medo que está pulsando dentro de você e veja qual caminho você pode e consegue seguir naquele momento.

Até semana que vem!

Sou Debora Pivotto, jornalista, escritora e terapeuta. Trabalhei por 13 anos em grandes redações do país até descobrir que os assuntos que mais me interessavam estavam dentro – e não fora – das pessoas. Apaixonada por autoconhecimento e comunicação, faço uma espécie de “reportagem da alma” com a terapia de Leitura de Aura, ajudo as pessoas a reconhecer e manifestar os seus dons e talentos facilitando um processo de autoconhecimento chamado Jornada do Propósito, e estou me especializando em Psicologia Análitica Junguiana. Adoro compartilhar meus aprendizados em textos, vídeos e workshops. Para saber mais, me acompanhe pelo instagram @deborapivotto.  

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