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Espiritualidade prática, com Debora Pivotto

Espiritualidade e autoconhecimento conectados com a nossa saúde física e mental, com o coletivo e com a vida prática
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As crenças limitantes e a pasteurização do autoconhecimento

Por Debora Pivotto
Atualizado em 14 jul 2021, 20h56 - Publicado em 26 Maio 2021, 18h09
Liberdade: reprogramar as nossas crenças parece ser a chave de ouro para a nossa felicidade, mas não se iluda!
Liberdade: reprogramar as nossas crenças parece ser a chave de ouro para a nossa felicidade, mas não se iluda! (Mohamed Nohassi on Unsplash/BOA FORMA)
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Hoje eu quero falar sobre um tema que está muito em alta no mundo do autoconhecimento e das terapias holísticas: as crenças limitantes.

Seja para ajudar a emagrecer, encontrar o Propósito de Vida ou abrir os caminhos para ter uma vida financeira mais próspera, romper com as nossas crenças limitantes para ser a chave de ouro que abre todas as portas da felicidade em nossa vida.

Mas será mesmo? Primeiramente, acho importante que a gente entenda o que são as tais crenças limitantes, qual o efeito delas na nossa vida prática e, claro, como podemos ir além delas.

O que são as tais crenças limitantes?

De forma bem resumida, crença é tudo aquilo em que nós acreditamos, que consideramos ser verdadeiro. As crenças são construídas a partir de tudo o que ouvimos, presenciamos ou experimentamos em nossa vida. Especialmente, durante a nossa infância. E elas têm uma influência muito grande sobre nossos pensamentos, sentimentos e, consequentemente, na nossa forma de ver o mundo e na criação da nossa realidade.

As chamadas crenças limitantes são aquelas que, de alguma forma, nos impedem de sermos mais felizes ou de conseguirmos algo que conscientemente queremos muito. Por exemplo, uma pessoa que presenciou muitas brigas na família por causa de dinheiro pode construir a crença de que dinheiro só traz discórdia e ter dificuldades para ter uma vida financeira saudável. Ou então, uma pessoa que sempre ouviu frases como “homem não presta” pode construir a crença de que eles não são pessoas confiáveis e ter problemas para encontrar um parceiro. Enfim, os exemplos são inúmeros.

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E como as nossas crenças influenciam diretamente as nossas ações,  transformar ou “reprogramar” as crenças que nos prejudicam  virou a grande promessa de muitos terapeutas, coaches e programas de desenvolvimento humano.

É possível “reprogramar” nossas crenças?

É aí que a coisa começa a se complicar. Primeiramente, eu confesso que já tenho um problema com esse termo “reprogramar”, que vem mundo do mundo da informática. Eu acredito muito na capacidade do ser humano de se curar, se transformar e evoluir. Mas nomear este processo de “reprogramação” me traz uma estranha sensação de que estamos comparando o ser humano a uma máquina e da qual exigimos utilidade, eficiência e produtividade. Ou seja, inserimos o autoconhecimento e a evolução humana numa visão de mundo superficial e utilitária.

Jung chama o processo de evolução e realização do ser de individuação. Acho tão linda essa palavra! E ela me remete a um conceito de algo muito único e individual, que é o que eu acredito que seja o processo de autotransformação.

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Aprendi nos estudos de Psicologia Analítica que olhar pra dentro de si é como ter em mãos o mapa de um tesouro. É um caminho cheio de obstáculos, mistérios, desafios, nuances, mas que nos levam também a conhecer algo muito precioso dentro de nós, que são nossos maiores potenciais e virtudes.

Por isso que quando eu vejo este processo tão lindo e profundo resumido a uma simples “reprogramação de crenças limitantes” eu vejo uma pasteurização do caminho do autoconhecimento, ou seja, uma forma de simplificá-lo e empobrecê-lo para torná-lo mais popular e acessível.

Uma segunda questão que me incomoda neste discurso é que descobrir qual é a crença que está por trás dos nossos bloqueios não é um processo tão simples. Porque muitas dessas “verdades” estão muito bem escondidas no nosso inconsciente. Por trás de cada “crença limitante”, existe uma história, uma razão, uma dor que é nossa ou que herdamos dos nossos ancestrais, tem um motivo que a originou. E transformar essa crença envolve compreender toda essa complexidade que vem junto com ela. É importante, compensador, mas dá um certo trabalho.

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Terapias holísticas, coaches e retiros que prometem reprogramação de crenças podem ajudar? Eu acredito que até podem desde haja um processo de auto investigação mais profundo. E se não for o caso, é importante que o terapeuta possa indicar outros processos para seus pacientes com bons psicoterapeutas ou psicólogos. Eu, particularmente, já participei de retiros que me ajudaram muito a compreender e começar a transformar algumas questões específicas da minha vida (ou crenças). Mas também já fiz sessões de algumas terapias holísticas que prometiam resolver uma questão mega complexa em uma sessão e, obviamente, isso não aconteceu.

Mas, acima de tudo, acho importante que cada pessoa se questione sobre a forma como busca o autoconhecimento. Você está querendo realmente se conhecer e se transformar ou quer apenas se livrar de “crenças” que você acha que estão atrapalhando a sua vida sem ter que fazer muito esforço para isso? É uma pergunta profunda.

E também acho importante reforçar o quanto este caminho de auto-descoberta é um processo para a vida toda, em que não há um lugar a se chegar – o aprendizado está em cada etapa do caminho.

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E também acredito que um dos maiores desafios desta jornada é a gente conseguir se amar e se acolher apesar de todos os nossos defeitos e  desafios. Uma terapeuta me falou uma vez “se amar depois que você já está com um trabalho que te realiza, próspera e feliz no relacionamento fica fácil”. E eu concordo totalmente. É bem importante conseguir se acolher e ser generosa consigo mesma, não importa quantos dos seus objetivos e sonhos já conseguiu realizar. Para terminar com uma frase de efeito: mais importante do que acabar com as nossas crenças limitantes é lutar para que o nosso amor próprio não seja limitante.

Sou Debora Pivotto, jornalista, escritora e terapeuta. Trabalhei por 13 anos em grandes redações do país até descobrir que os assuntos que mais me interessavam estavam dentro – e não fora – das pessoas. Apaixonada por autoconhecimento e comunicação, faço uma espécie de “reportagem da alma” com a terapia de Leitura de Aura, ajudo as pessoas a reconhecer e manifestar os seus dons e talentos facilitando um processo de autoconhecimento chamado Jornada do Propósito, e estou me especializando em Psicologia Análitica Junguiana. Adoro compartilhar meus aprendizados em textos, vídeos e workshops. Para saber mais, me acompanhe pelo instagram @deborapivotto.  

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