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Procedimentos estéticos: não caia em ciladas!

Nenhum recurso estético é 100% livre de riscos. Mas há os que, além de perigosos, são desaconselháveis. Informe-se e se precavenha

Por Carol Salles (colaboradora)
Atualizado em 26 abr 2024, 11h02 - Publicado em 26 fev 2015, 10h45
agencyby/Thinkstock/Getty Images
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Até onde você iria para atingir o seu ideal de beleza? A questão entrou mais uma vez em pauta no fim do ano passado, quando a modelo Andressa Urach, 27 anos, foi internada com uma infecção gravíssima, que quase custou sua vida. O motivo? Complicações decorrentes da aplicação de uma substância conhecida como hidrogel, que foi usada para aumentar as coxas. Cerca de um mês antes, houve um caso similar. A ajudante de leilão Maria José Brandão, 39 anos, morreu, em Goiânia, horas após a aplicação da mesma substância no bumbum. O procedimento teria sido feito por uma falsa biomédica, em um quarto de hotel alugado para esse fim. Casos como esse não são raridade. Na ânsia de se enquadrar em padrões,  questões básicas de segurança e de higiene são deixadas de lado – e essa inobservância pode custar muito caro! 

Não existe procedimento 100% seguro no universo da medicina estética. Por isso, a ordem é se munir de informação. No topo das preocupações, deve estar a escolha criteriosa do profissional. Procure um cirurgião plástico ou um dermatologista especializados na técnica. “Ele deve ter conhecimento sobre anatomia, ser capaz de reconhecer sinais clínicos, como reações alérgicas, queda de pressão, hipoglicemia e até mesmo lidar com uma parada cardíaca”, enumera a dermatologista Mônica Linhares, do Rio de Janeiro. “Também precisa orientar de forma detalhada sobre os riscos”, diz a dermatologista Juliana Carnevale, também do Rio de Janeiro. Consulte os sites das Sociedades Brasileiras de Cirurgia Plástica (www.cirurgiaplastica.org.br), de Dermatologia (www.sbd.org.br) e do Conselho Federal de Medicina (portal.cfm.org.br) e busque indicações com amigas que tiveram bons resultados.


Cheiro de cilada

Outra medida importante é visitar o estabelecimento onde o procedimento será feito. Avalie as condições do ambiente e fuja de quartos alugados em hotéis, casas particulares, salões de beleza e clínicas sem nome na fachada. Faça uma pesquisa de preços, ligando para médicos de renome, e, se encontrar alguma oferta muito abaixo da média – como as oferecidas por sites de compras coletivas –, desconfie. Se usar algum produto injetável, peça ao médico a embalagem do produto e fotografe sua validade e seu registro. “Isso pode ser útil caso aconteça alguma intercorrência”, explica a dermatologista Helena Costa, do Rio de Janeiro. A seguir, elencamos, por ordem de segurança, os tratamentos que oferecem mais riscos. Fique esperta: não vale tudo em nome da beleza! 


Alerta: não entre nessa! 

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Hidrogel de poliamida

O QUE É: Trata-se de uma substância formada por poliamida (produto sintético) e soro fisiológico, com consistência similar à de um gel de cabelo e que é reabsorvida pelo organismo depois de quatro ou cinco anos. Sob o nome comercial de Aqualift, não tem registro válido na Anvisa – venceu em março de 2014 e, até o fechamento desta reportagem, não havia sido renovado ainda. Isso significa que novos lotes não podem ser importados nem vendidos no Brasil. No entanto, o produto comercializado antes dessa data está em situação legal. 

PARA QUE SERVE: Apenas para preencher pequenas correções, como diminuir o aspecto de uma celulite e nivelar depressões na pele causadas por cicatrizes. Não é indicado para grandes áreas – no caso, o aumento do volume do bumbum e das coxas. 

RISCOS: Rejeição da substância, deformidade, inflamação ou infecção. “Não existem estudos a longo prazo que garantam a segurança, a biocompatibilidade e a estabilidade da substância”, diz o cirurgião plástico Eduardo Sucupira, do Rio de Janeiro, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. 

ALTERNATIVAS: Praticamente uma unanimidade entre os médicos para pequenas correções, o gel à base de ácido hialurônico é considerado muito mais seguro, além de ser amplamente estudado. “No entanto, quando se trata de preenchimentos maiores, as melhores opções são, sem dúvida, os implantes de gel de silicone altamente coesivos, ou seja, uma cirurgia plástica como a de aumento das mamas. A lipoenxertia, que é o uso da gordura obtida por meio de lipoaspiração, também é uma alternativa possível, especialmente para o aumento de glúteos”, diz Eduardo Sucupira. 

Para aumentar o volume das coxas, usa-se uma quantidade de hidrogel até 20 vezes maior do que seria seguro. O risco de infecção aumenta de forma proporcional. 

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PMMA

O QUE É: Um composto de gel e microesferas de um material semelhante ao plástico, o polimetilmetacrilato. O PMMA não é absorvido pelo organismo e, por isso, tem efeito definitivo. Para que serve “O PMMA é indicado somente em pequenas quantidades e em situações muito específicas, como em portadores de HIV, que podem ter deformidades no corpo e na face devido às medicações”, diz a dermatologista Helena Costa. A substância, no entanto, também é usada de forma contraindicada para nivelar rugas e sulcos de tamanho médio a profundo,
como o bigode chinês, preencher lábios finos e dar volume ao bumbum, às coxas e às panturrilhas. 

RISCOS: Manchas, deformidade, vermelhidão permanente, formação de grânulos, infecção ou nódulos que podem repuxar a pele, causando dor, necrose (morte do tecido), embolia pulmonar e expulsão do material através da pele. “Quando surgiu, o PMMA foi uma febre e houve o uso indiscriminado do produto. O que estamos observando agora em alguns casos, depois de uma década, é o endurecimento da região, a migração do produto e uma reação inflamatória cíclica incurável, muito difícil de tratar”, conta Helena. 

ALTERNATIVAS: As mesmas para o hidrogel de poliamida: gel de ácido hialurônico para pequenas áreas, enxerto de gordura do próprio paciente e prótese de silicone para áreas maiores. “Os riscos e rejeição são mínimos com esse tipo de material. Além disso, se houver qualquer complicação, é possível a retirada da prótese”, fala a médica. 


Muito cuidado: nem todo médico recomenda

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Carboxiterapia

O QUE É: Injeções de dióxido de carbono na pele através de uma agulha bem fina. Para que serve “O gás melhora a circulação sanguínea e estimula a produção de novo colágeno. Se for introduzido mais profundamente, pode auxiliar na quebra das células de gordura”, explica a dermatologista Flávia Ravelli, de São Paulo. É indicada para tratar celulite, estrias e flacidez, além de suavizar rugas. Trata-se, no entanto, de um procedimento que não tem o aval de todos os dermatologistas. 

RISCOS: Hematomas, inchaço e dor no local da aplicação, manchas e necrose da pele. Além disso, se não houver higiene adequada, pode ocorrer uma infecção por bactérias (e até infecção generalizada se não for tratada a tempo). “É um procedimento que ainda carece de evidências científicas mais robustas”, diz Flávia. Para a Sociedade Brasileira de Dermatologia, trata-se de um tratamento experimental, que requer mais estudos que comprovem os benefícios para fins estéticos. O Conselho Federal de Medicina (CFM) não recomenda a realização
desse procedimento por profissionais que não sejam médicos, como enfermeiros, fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais. 

ALTERNATIVAS: Aparelhos de radiofrequência, infravermelho e ultrassom para tratar celulite, gordura localizada e flacidez. Laser não ablativo e peeling melhoram o aspecto das estrias. 

Mesoterapia

O QUE É: Também conhecida por intradermoterapia, é a injeção de um mix de substâncias (chamado de mesclas) na derme, a segunda camada da pele. A composição dessa mistura varia de acordo com o que se deseja tratar: de celulite a calvície. Algumas levam ácidos, vitaminas e enzimas. Já houve a febre do lipostabil, uma substância, proibida pela Anvisa, que  derreteria a gordura, e do extrato de alcachofra, aplicado ilegalmente até em salões de beleza. 

PARA QUE SERVE: Gordura localizada, celulite, estrias e até queda capilar.

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RISCOS: Equimoses (áreas roxas na pele), vermelhidão, necrose do tecido, infecção, manchas, reações alérgicas e choque anafilático. “Muitos profissionais deixaram de usar o método pelo risco de complicações”, diz a dermatologista Luciana Labouriau, do Rio de Janeiro.

ALTERNATIVAS: Criolipólise, ultrassom e radiofrequência para combater a gordura localizada. Laser de CO₂ e peeling para estrias e fototerapia com luz vermelha para tratar a queda de cabelo. 


Aprovados, mas com moderação

Laser de CO₂ ablativo

O QUE É: Laser que destrói a primeira camada da pele. É o mais agressivo em tratamentos estéticos, mas, se bem usado, tem excelentes resultados. 

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PARA QUE SERVE: Rejuvenescimento (rugas, manchas e flacidez), cicatrizes altas, estrias e flacidez corporal.

RISCOS: Queimaduras e manchas. “Não é todo mundo que pode fazer, especialmente mulheres de pele morena e bronzeada. Também é necessário verificar se a paciente tem boa cicatrização, como responde à anestesia, se tem diabetes ou hipertensão, por exemplo”, lista a dermatologista Carolina Marçon, de São Paulo. 

ALTERNATIVAS: Os lasers fracionados não ablativos, como Fraxel e Pixel, entre outras marcas, não destroem a primeira camada da pele e, por isso, são menos agressivos. Funcionam para rugas, manchas e flacidez. A luz intensa pulsada trata manchas e vasinhos aparentes. 

Depilação definitiva

O QUE É: Depilação feita com laser ou com luz intensa pulsada.

PARA QUE SERVE: Eliminar pelos. 

RISCOS: Queimaduras e manchas. O laser é atraído pela melanina, pigmento presente no folículo piloso, onde nasce o pelo. Por meio do calor, ele destrói o folículo, fazendo com que o pelo não cresça mais. No entanto, quem está muito bronzeada, é morena ou negra tem uma
concentração grande de melanina na pele. A luz, então, erra o alvo e queima a pele. “O laser de diodo é o que oferece maior risco. O ND:Yag até pode ser usado em pele escura, mas tem que ser manipulado por um profissional muito bem treinado”, diz Carolina. E é aí que mora o problema: na maioria das clínicas de estética, a depilação a laser é feita por um técnico, e não pelo médico. Na pele negra, por exemplo, um descuido pode terminar em manchas brancas irreversíveis. Outro prejuízo comum da falta de acuidade na hora de manusear os aparelhos: obter o efeito contrário e ganhar mais pelos. “Isso acontece quando, por medo de queimar a cliente, o profissional usa uma energia baixa demais. Nesse caso, acaba estimulando o crescimento dos pelos”, explica a dermatologista. 

ALTERNATIVAS: Aqui, não vale uma troca de métodos, mas uma boa pesquisa antes de fechar o pacote de depilação. As clínicas que usam a luz intensa pulsada costumam oferecer ótimos preços, mas atenção: a técnica demanda mais sessões – o que, no final das contas, pode sair tão caro quanto o tratamento a laser no consultório dermatológico. 
 

Quando uma substância considerada “do bem” dá errado 

Queridinhos dos dermatos, o ácido hialurônico e a toxina botulínica também podem ser responsáveis por pequenos desastres estéticos se aplicados em excesso 

Ácido hialurônico
É uma substância presente naturalmente no organismo, que atua na elasticidade da pele. A versão sintética (mas compatível com o nosso corpo) é fabricada em três concentrações: a mais densa nivela a celulite e garante um volume sutil às mamas. A média é indicada para preencher rugas, dar volume às bochechas e engrossar os lábios. A mais líquida apenas hidrata a pele. Se for injetada em excesso ou em concentração inadequada, pode deixar um resultado caricato. “A bochecha fica muito saliente e a boca artificial. De qualquer maneira, o erro é sempre do médico. Daí, a importância de buscar um expert na técnica”, diz a dermatologista Daniela Schmidt Pimentel, do Hospital Sírio Libanês, em São Paulo.

Toxina botulínica
Produzida de uma bactéria, relaxa a musculatura e pode paralisá-la se usada incorretamente. Quando surgiu, a toxina virou moda e, na esteira do sucesso, vários exageros foram cometidos. O mais comum era deixar o rosto com a aparência congelada, incapaz de expressar emoções. “Hoje, os médicos fogem desse efeito. O que buscamos é apenas minimizar a força do músculo para suavizar a fisionomia, dar a impressão de que a mulher está  descansada”, explica Daniela. Para isso, os dermatologistas usam uma quantidade menor do produto e aplicam a substância em pontos combinados entre si, que garantem um resultado harmônico. 

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