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O que os coaches esportivos gostariam de dizer a você

Já ouviu falar em treino mental? Aprenda a superar todos os desafios e chegar ao seu objetivo com a ajuda dos treinadores de grandes atletas

Por Daniela Bernardi
Atualizado em 26 abr 2024, 13h24 - Publicado em 7 nov 2016, 12h56
 (Cultura RM Exclusive/Robin Skjoldborg/Getty Images)
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Depois de ser desclassificada da Olimpíada de Londres, em 2012, a judoca Rafaela Silva teve que enfrentar adversários ainda piores. Dezenas de brasileiros – escondidos atrás de um teclado – lotaram as mídias sociais da carioca com xingamentos que variavam de “Você é a vergonha nacional” a ofensas racistas. Extremamente chateada, Rafaela ficou sem sair de casa por mais de um mês e passava o dia todo na cama. Parecia que o judô tinha ficado para trás na vida da jovem da Cidade de Deus.

Por insistência da irmã, a judoca topou assistir a uma palestra sobre a relação da mente com o esporte. A master coach Nell Salgado, então, convidou Rafaela para compartilhar sua história com todos. No meio da roda, a atleta começou a chorar enquanto se lembrava das palavras ditas na internet. O desabafo sincero – e desesperado – refletia sua fragilidade. A partir daí, surgiu uma parceria entre ela e Nell. “Fiz a Rafa imaginar como seria ver a próxima Olimpíada pela TV. Olhar as outras pessoas ganhando a medalha que tanto queria. Será que ela se perdoaria? Conseguiria conviver com essa dor?”

Após oito meses de um trabalho intenso de resgate da sua autoestima, Rafaela subia no lugar mais alto do pódio no Mundial de Judô. O resto da história você já conhece: mais três anos e a judoca conquistava o primeiro ouro brasileiro da Olimpíada do Rio, emocionando todo o país. “Quando ficava com preguiça de treinar, eu a provocava dizendo que alguma gringa ia vir ao país dela, tirar onda e ainda levar o título lá para fora”, conta Nell. Foram pensamentos como esse que garantiram que a carioca voltasse a se dedicar com tanto afinco à modalidade. O que você e ela têm em comum? Ambas podem treinar a mente para alcançar o sucesso que bem entenderem no mundo esportivo – e, por que não, em outras áreas da vida.

Tomada de decisão
Antes de definir um desafio, você deve entender por que ele é tão importante. “Ter um grande motivo é fundamental quando a vontade de ficar no sofá parece maior que tudo”, explica Nell. E ao dizer “um grande motivo” estamos falando de algo muito além dos 2 quilos que você quer secar até o verão. Mais saúde, uma medalha, maior autoestima… São essas as vontades que vão nortear suas escolhas nos meses seguintes. “É claro que nosso corpo prefere assistir a um filme a acordar cedo e suar o top. Para fugir dessa armadilha, tenha claro na sua cabeça quanto ficará feliz se for malhar.” Monte, mentalmente, uma tabela comparando os ganhos e as perdas. Se suas razões forem realmente sinceras, seu cérebro vai concordar que é melhor mexer o bumbum.

Plano de ação
Ok. Agora que você já tem um propósito gigantesco, falta organizar seu cronograma, isto é, quais serão as metas de curto prazo. No caso da Rafaela, a partir de Londres, ela treinava focada em campeonatos menores para depois sonhar com o Rio. Já você pode começar com pequenos passos, como as provas de 5K ou as aulas mais fáceis. “As primeiras conquistas servem para comprovar para nós mesmos que o plano está dando certo e que podemos seguir assim”, diz Bruno Zanuto, ex-atleta profissional de vôlei e coach do programa Treino Mental para Corredores.

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Além do físico
Antes de cada treino, defina quais serão seus objetivos para aquele dia: correr em um pace de 6 min/km, nadar 2 mil metros ou se sentir poderosa com o top encharcado. Essas metas pontuais vão ajudá-la a se manter concentrada. “As pessoas se exercitam com pressa, já pensando nas tarefas do trabalho ou na lista de compras”, alerta Bruno. O resultado: exercícios feitos de qualquer jeito. Por isso, você precisa sempre trazer sua mente de volta quando ela se distrair. “Até recomendo que deixem os relógios e os fones em casa.” Já quando o cansaço bate e parece que será impossível dar mais um tiro na esteira, é o momento de recordar os grandes motivos definidos no início (você tem que estar apaixonada por eles!). “O diálogo interno é perigoso porque pode nos levar a crer que o fôlego acabou. Só que, se você souber sentir seu corpo, vai perceber que o limite ainda não chegou”, diz Bruno. Mantras como “Sim, você consegue!” levam mais energia aos seus músculos.

Cérebro malhado
A mente é igual aos músculos: precisa ser treinada. “Por meio da visualização, o atleta consegue trazer à realidade possíveis situações adversas (câimbra, mal-estar, sede, derrotas…) para aprender a lidar com elas”, diz Nell. Quanto mais detalhes, melhor. Imagine a paisagem, a roupa que veste, as pessoas em volta, o clima, os sentimentos e, é claro, a dor. O nadador americano Michael Phelps, por exemplo, já disse que se imaginava competindo com os óculos fora do lugar. Se o imprevisto acontecesse de verdade na prova, o desespero seria menor, porque ele já estaria mentalmente treinado para lidar com o problema. “Quando saímos da zona de conforto, nosso instinto natural tende a nos proteger”, explica Bruno. Por isso ficamos nervosas diante de um adversário. É a nossa cabeça dizendo “Não se meta nessa!” Só que não queremos fugir, né? Aí que entra o treinamento do cérebro. “Você tem que saber lidar com esses sentimentos para ser capaz de dominá-los e seguir adiante”, diz Nell. E, assim como com seu abdômen, esse ganho de resistência não acontece de um dia para o outro.

Olhar para dentro
Autoestima e confiança têm tudo a ver. Um atleta seguro de si tem performance melhor porque consegue eliminar os pensamentos sabotadores. “Vale se apegar a qualidades que você tenha como profissional, mãe, dona de casa, cozinheira…”, diz Nell. Conhecer seus pontos fracos e fortes ajuda a trabalhar as emoções para impulsionar os resultados – a Rafaela transforma raiva em vontade de vencer.

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