Treino 3D - Corpo, Mente e Espírito, com Samorai

Bacharel em esporte, Samorai (@samorai3d) é criador do método de treinamento 3dimensional para reabilitação, prevenção e tratamento de lesões e performance. Aqui, auxilia praticantes e treinadores na busca por harmonia.
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As três respostas

Uma continuidade do texto da semana passada, sobre A Pergunta Certa

Por Samorai
28 abr 2022, 12h51

Hey, folks! Na semana passada fiz uma comparação com um aplicativo de navegação para explicar como definimos os pontos de partida e chegada. Se você não leu essa coluna, sugiro clicar aqui porque essa é uma continuidade dela e fará mais sentido para você se ler essa primeiro. Essencialmente, mostrei que a lógica de pensamento 3D é muito parecida com o Waze. Você define um ponto de partida, um de chegada e o aplicativo traça a rota. E é sobre essa rota que vamos abordar hoje.

Para começar, embora o processo de pensamento seja parecido com os navegadores, existe uma diferença crucial. O ponto A e o ponto B não são fixos. Somos seres singulares a cada segundo, então os pontos também são móveis e precisamos atualizá-los constantemente. Isso faz com que as rotas precisem ser corrigidas o tempo todo. E é aqui que entra a grande sacada do pensamento 3D. Vem comigo que te explico!

Muitas vezes, começamos a caminhar por uma rota que estava indo bem e no meio do caminho ela para de funcionar. Isso se dá porque essa rota esgotou o que ela podia oferecer e o caminho agora terá que seguir por outra estrada. No caso do Waze isso já era definido no começo. Você vai por essa via até uma parte do caminho e a partir dali você pega essa outra via. Mas dada toda complexidade do corpo e até da nossa falta de compreensão do funcionamento dele, não temos muito como precisar o caminho. E quando ele para de funcionar, tenho que encontrar outro caminho. Quando isso acontece no trânsito perguntamos para as pessoas que são familiarizadas com o lugar qual caminho tomar. No treinamento perguntamos ao nosso aluno, afinal ninguém é mais familiarizado com aquele corpo do que ele.

E, para isso, a teoria das três respostas é uma boa referência. Tenho que fazer uma pergunta certa que caiba nessa teoria. E o que diz essa teoria? Diz que para toda pergunta que você fizer, apenas três respostas podem ser possíveis: melhorou, piorou ou ficou igual. Simples assim. Como eu disse, o corpo humano é altamente complexo, porém minha abordagem deve ser simples. E essa pergunta pode ser feita em relação ao objetivo final ou a alguma parte do caminho.

E como sempre, nada melhor que os exemplos para podermos entender. Para não fugir do tema vou usar os mesmos exemplos que usei no texto anterior. Se você chegou até aqui sem ler, vou te dar mais uma chance. Está aqui ó.

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mulher mexendo no joelho
(PRImageFactory/BOA FORMA)

No primeiro caso temos alguém com dor no joelho, que não consegue caminhar sem dor e como resultado queremos alguém que caminhe por 10 minutos sem dor. Mas como saber qual exercício aplicar nesse caso? Será que um lunge para frente é um bom exercício para atingir esse objetivo? E um agachamento? Um swing com kettlebell? Você, caro leitor, tem essa resposta? Não? Eu também não? E como faço para saber? Faço essa pergunta em relação ao objetivo dele.

Vamos imaginar que eu acho que o swing pode ajudá-lo nesse objetivo, porque para outro aluno que tinha um objetivo semelhante, ajudou. De antemão já te aviso que o fato de ter funcionado com outro aluno não significa que funcione com este. Aliás, até se funcionar com este não significa que funcionará sempre, porque nunca podemos esquecer, nem por um segundo (e eu sei que parece repetitivo, mas caímos sempre nesse erro), que as pessoas são singulares. Mas, voltando ao tema, tenho que começar por algum lugar. Então vou apostar no swing.

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Fazemos alguns treinos de swing e faço a pergunta relacionada ao objetivo, que no caso seria andar 10 minutos sem dor no joelho. Qual o ponto de partida? Não consegue andar nada sem dor no joelho. Então vem a pergunta: após uma semana de treinos de swing como está a sua caminhada? Para responder essa pergunta só cabem as três respostas: melhorou, piorou ou não mudou nada. Vamos agora interpretar cada resposta.

Se a pessoa me fala que melhorou, que agora ela consegue andar com menos dor do que antes, ou até sem dor por uns 3 minutos, entendo que encontrei um caminho ou uma rota, para ficar dentro da analogia dos navegadores. E continuarei seguindo. Se ela me fala que não mudou nada, não melhora nem piora, posso fazer duas coisas: ou acreditar que o swing ainda não teve tempo de gerar uma melhora e continuar apostando por mais tempo, visto que ao menos não piora, ou eu entendo que o swing e os benefícios que ele gera não são variáveis que interferem no fato dela não estar conseguindo andar. Possivelmente descartaria, ao menos momentaneamente, esse exercício.

A última possibilidade de resposta seria que piorou. Antes do exercício o joelho doía quando andava e agora a dor aumentou. Nesse caso, o exercício afeta uma variável do problema, entretanto de forma negativa. Tenho que mudar o que estou fazendo. Ou ajusto o exercício ou mudo. Posso fazer qualquer coisa, menos isso. Esse é um exemplo de uma pergunta relacionada ao objetivo, onde ele me norteia se a minha escolha está surtindo o efeito desejado.

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Mas eu também posso aplicar esse mesmo processo de pensamento ao meio ou parte do caminho. Para exemplificar vou usar outro exemplo da semana passada. A pessoa queria brincar com o filho pequeno no chão por 20 minutos. Ela não consegue ficar ali brincando mais do que 5 minutos. Dentro dos infinitos caminhos que eu poderia escolher, acredito que um treino de agachamento poderia gerar recursos para ela alcançar seu objetivo. Entretanto, quando vamos agachar, ela sente dor no joelho. Dor no joelho ao agachar não era uma informação que estávamos trabalhando com ela. Ela não existia até então. Como tenho infinitas possibilidades, posso trocar de exercício. Contudo, vamos supor que eu ache que para atingir o objetivo dela, um bom agachamento seja essencial. Nesse caso eu aplico o mesmo processo de pensamento ao agachamento, independentemente se nesse momento ele afete ou não o resultado final.

Então, posso pensar assim: “hmm, você sente dor ao agachar. E se você afastasse mais a perna? Como você sente?” E as três respostas novamente serão as únicas possibilidades. Se melhorou, começo meu treino de agachamento pelas pernas afastadas e vou, pouco a pouco, criando estratégias baseadas nas três respostas para melhorar o agachamento em outras bases antes de progredir com ele. Ou eu simplesmente treino o agachamento com as pernas afastadas, visto que esse não tem dor, faço a ela a pergunta ao objetivo final. Treinar agachamento ajudou a ficar mais tempo brincando com seu filho? E de novo, só as três respostas.

agachamento sumô
(MART PRODUCTION/Pexels)
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Voltando para a variação de abrir mais as pernas no agachamento. Ela poderia ter produzido as outras duas respostas. Porém, nesse caso, com a dor, independentemente de não mudar nada ou piorar, tenho que mudar o que estou fazendo, porque se tem dor não posso executar. Nesse caso tento outras opções, como por exemplo uma perna na frente da outra, ou agachar rodando os braços, ou segurando no espaldar. E sempre fazendo a mesma pergunta. Mas, se eu acredito que a melhora do cliente passa pelo agachamento, agora meu foco passa a ser, primeiro, criar condições para que o agachamento aconteça e só depois usar o próprio agachamento como um meio para a melhora do objetivo final.

Para finalizar, uma outra coisa pode acontecer. Um exercício funcionar por um tempo e depois não funcionar mais. Eu vou fazendo o exercício e perguntando, relacionado ao objetivo, se está melhorando. Por um tempo a resposta é que sim, mas antes de atingir o objetivo final a resposta muda. Agora passa a ser que não muda nada. Voltando ao primeiro exemplo, a pessoa começa fazer swing e passa a caminhar sem dor por 1 minuto. Continuamos a treinar e ela passa para 3 minutos. Vamos evoluindo no treino de swing, mas agora não muda mais o resultado final. Ela não passa dos 3 minutos e o objetivo era caminhar por 10 minutos. Isso é bem comum. O fato é que o swing era uma parte da solução. Ele entregaria um recurso que era necessário, mas não o único. E os outros recursos que precisamos não são contemplados pelo swing.

Para entender dentro da analogia do Waze, podemos pensar que para chegar no destino precisamos pegar uma estrada e andar até determinado km e depois pegar outra estrada para chegar ao objetivo. Não teria como chegar na segunda estrada sem passar pela primeira, mas a primeira, por outro lado, não te leva ao destino final. Então o swing foi a primeira estrada. O que temos que fazer agora? Encontrar a segunda estrada. E como fazemos isso? Através de uma pergunta que pode ter como resultado apenas as três respostas que podem nos guiar. Simples, né?

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Eu, particularmente, passo a minha vida tentando simplificar os processos de pensamento. Quando a gente lê o resultado final parece que estou falando o óbvio. Mas acredite, o óbvio é o mais difícil de enxergar. Como diria Leonardo da Vinci, a simplicidade é o último estágio da sofisticação, por isso que a grande maioria das pessoas não chegam na simplicidade. Muitas vezes, não por falta de capacidade. Essa todos temos. Mas por não vermos o valor por trás das coisas simples. Acredito ser o método AB 3D a maior contribuição que dei ao treinamento. Entretanto, não importa o que eu acho, me importa o que isso causa. Essa, inclusive, é uma essência do modelo das três respostas. Importa o que causa. Então eu te pergunto: esse processo de pensamento te ajudou a montar um treino melhor e mais compromissado com o resultado final, seu ou do seu aluno? Novamente aqui cabem apenas três respostas.

Forte abraço,
Samorai

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